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O "fenônemo Marina" ainda é difícil de aquilatar 28 de agosto de 2014 | 09:13

Como Marina afeta a campanha baiana, por Raul Monteiro

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As pesquisas Ibope e Babesp divulgadas ontem sobre a sucessão baiana mostram que foi positivamente nulo até agora o impacto da candidatura da presidenciável Marina Silva (PSB) na Bahia. Isto não significa, no entanto, que o “fenômeno Marina”, como a ele se reportam os principais analistas do país, não tenha acrescentado novos desafios a algumas das candidaturas locais ao governo, entre as quais, ou principalmente, se inscreve a de Rui Costa. Na verdade, o petista deve ser afetado negativamente, de forma indireta, em decorrência de uma estratégia que assumiu para sua campanha no Estado.
Quando começa a estabelecer uma polarização com a presidente Dilma Rousseff (PT), ameaçando claramente derrotá-la no segundo turno, a candidata do PSB espalha dificuldades para todas as candidaturas estaduais Dilma-dependentes, a exemplo da de Rui. Por uma opção estratégica do PT baiano, desde o primeiro momento o petista foi colocado ao eleitorado como um nome de Dilma, do ex-presidente Lula e do governador Jaques Wagner, nesta ordem. Por conta do processo que resultou em sua escolha como candidato, aliás, Wagner é que deveria aparecer como o principal fiador público do seu nome.
Com anos de antecedência, foi o governador que não só definiu, como concebeu a candidatura, montou a estratégia para dotá-la de musculatura e enfrentou o próprio PT e os partidos aliados para bancar o nome de Rui como aquele que poderia melhor disputar sua sucessão. Nada a opor, mas, por isso, é natural que estivesse em posição destacada na linha de frente da defesa de seu nome junto ao eleitorado do Estado que governa vai completar oito anos. No entanto, por motivos que o marketing explica, foi acordado que Wagner ficaria ligeiramente fora do proscênio, deixando no papel de protagonistas no apoio a Rui a presidente Dilma e Lula.
Sob a nova onda anti-petista, que o “fenômeno Marina” só faz aumentar, os apelos de Lula em favor de uma candidatura estadual chegam extremamente enfraquecidos. Já é hercúleo o esforço que o ex-presidente faz para empurrar para a linha de chegada o poste que concebeu, governa o país há quase quatro anos, mas, ao que vergonhosamente evidencia a campanha presidencial petista, parece nunca ter deixado a posição subalterna de ministra ou assessora, de mera coadjuvante sua no comando do país. Assim, restaria no auxílio a Rui a própria Dilma, que está ameaçada de ser brutalmente atropelada por Marina, mesmo com o denodado empenho que faz por ela Lula.
Com uma presidente Lula-dependente num nível grotesco como o que revela a sua própria propaganda, na qual Lula precisa aparecer ostensivamente lançando mão de ficções como a de que os problemas econômicos do país governado há quase 1.400 dias por ela são causados por uma gigantesca crise internacional à qual ele já se referiu no passado como uma mera marolinha, e Marina subindo numa velocidade e frequência ainda difíceis de aquilatar, é duro acreditar que Dilma ainda poderá puxar candidaturas nos Estados, o que pressiona por mudanças rápidas nas estratégias de candidatos petistas – ou aliados – às sucessões estaduais.
* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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