Foto: Política Livre
Rui Costa surpreende com proposta para o Irdeb 31 de julho de 2014 | 09:21

Um petista mais autônomo que os anteriores

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Debates sobre temas específicos realizados por setores, como o conduzido na noite de terça-feira na Academia de Letras da Bahia a respeito da cultura, aquecem a campanha, permitem que se conheça, aos poucos, o pensamento dos candidatos e, como consequência, ainda os prepara para os confrontos mais esperados e disputados, promovidos normalmente pelas emissoras de televisão, podendo, ainda, de quebra, revelar algumas surpresas. Na discussão da ALB, a novidade foi a posição do candidato do PT a governador, Rui Costa, sobre o destino do Irdeb.

Seguindo o mesmo pensamento dos adversários do DEM, Paulo Souto, e do PSB, Lídice da Mata, o candidato do governo prometeu devolver o Instituto de Radiodifusão da Bahia aos domínios da secretaria estadual de Cultura, sob a qual nasceu e se criou até o deslocamento para a pasta da Comunicação, promovido, à época sob fortes críticas, na administração de Jaques Wagner (PT), à qual o petista serviu na condição de chefe da Casa Civil. A bem da verdade, não há registros, por ocasião da mudança, de qualquer posicionamento de Rui em favor da submissão do Irdeb à política de comunicação estadual.

O fato de ter servido ao governo ao qual postula dar continuidade não torna o candidato petista, naturalmente, apoiador automático de todas as opções tomadas no âmbito da administração na qual trabalhou e sobre a qual, pela posição que ocupou, deve ter exercido forte nível de influência. Mas a revelação do candidato de que concorda com o retorno do Irdeb à sua atribuição original de instrumento de política cultural e não de propaganda de qualquer governo não deixa de ser um alento em termos da perspectiva de o petista revelar um pensamento sobre o Estado em alguma medida diferente e até mais avançado do que a companheirada.

A bem da verdade, a entrega do Irdeb à Secom, também ela uma criação do segundo governo Wagner, em si, não conseguiu operar grandes transformações no espectro da comunicação na Bahia, nem mesmo aquelas que, se imagina, devem ter norteado a opção tomada pelo governo, demonstrando ser, na prática, mais um conceito ultrapassado em relação ao setor, revelador de teses e concepções ideológicas obsoletas e centralizadoras, para não dizer manipuladoras, motivo porque, por absoluta falta de resultados, pode ser rapidamente revista.

Mesmo assim, claro que quando admite tamanha inflexão, Rui protagoniza uma negação daquilo que já foi realizado até aqui pelo governo que banca seu nome à sucessão. Ocorre que a postura do candidato também coincide com que o se tem ouvido ser uma análise defendida pelo governador Jaques Wagner no âmbito da administração e principalmente da campanha, no sentido de que o petista não pode ficar refém de todos os caminhos trilhados pela atual gestão, devendo exercer o direito de propor correção de rotas, em especial, se isso representar a perspectiva de ganhos eleitorais.

De fato, a começar pelas decisões que já tomou em algumas áreas, da qual a comunicação da campanha é uma delas, o candidato tem demonstrado ter posições firmes sobre o que pretende, diferenciando-se de candidaturas petistas anteriores e em alguns casos distanciando-se sutilmente do ideário que tem alicerçado até aqui seu partido e o governo que ele comanda, a ponto de gerar questionamentos internos no PT e em meios políticos independentes sobre se não corre o risco de perder a identidade. É, sem dúvida, uma possibilidade, a qual, no entanto, deve estar sob meticuloso cálculo eleitoral, uma atividade a que Rui se dedica com afinco.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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