Foto: Divulgação/Arquivo
Seleção brasileira: um legado dinamizado pela derrota humilhante 10 de julho de 2014 | 09:34

A surpreendente pobreza e riqueza dos candidatos

exclusivas

Antes do massacre nunca antes visto na história deste país sofrido por uma Seleção Brasileira numa Copa do Mundo, políticos, atendendo ao que exige a Legislação Eleitoral, registraram suas candidaturas, apresentaram sua previsão de gastos milionários para a campanha e sua declaração de bens à Justiça Eleitoral. E não fosse a animação geral que até anteontem tomava conta do Brasil e do Estado, ante a possibilidade de vitória no Mundial, apesar das conhecidas limitações do time do Felipão, pelo menos o item relativo ao patrimônio dos candidatos teria provavelmente ganho maior notoriedade, deixando todo mundo com o pé atrás.

Os números impressionam verdadeiramente tanto pela riqueza como pela pobreza declarada de alguns candidatos. Por um motivo simples: eles não condizem com a realidade nem muito menos com o padrão de vida desfrutado por grande parte, inclusive por alguns dos mais importantes ou conhecidos deles. Acreditar que candidatos a cargos majoritários, de extensa ficha pública, tenham conseguido acumular, ao longo de anos de atividade política, menos de meio milhão em imóveis é tão difícil quanto crer que deputados, de origem declaradamente humilde, pertencentes à esquerda, exibam patrimônio assombrosamente milionário.

Quem está, afinal, sendo sincero e quem está mentindo nesta história? A dúvida apenas se amplia quando se deduz, a partir de outras informações sobre a vida dos políticos, como o próprio convívio profissional com eles e suas equipes, que, na grande maioria das vezes, os valores declarados estão muito aquém dos sinais exteriores de riqueza que ostentam. Uma tese que ganha ainda mais corpo quando se lembra do costumeiro uso do expediente de laranjas como forma de encobrir a verdadeira propriedade de bens no país do hexa frustrado.

Portanto, por mais que se tente crer, como se acreditou que o Brasil poderia sagrar-se mais uma vez campeão numa Copa, que os candidatos estão sendo honestos quando apresentam sua declaração patrimonial, a discrepância entre a afortunada existência que a maioria leva e os dados que eles se encarregam de registrar, no momento em que formalizam o desejo de disputar um cargo público, como prova do que produziram em sua escalada profissional, acaba revigorando a grande desconfiança e até a ojeriza de que a classe política tem sido alvo cada vez maior.

Pior ainda é saber que os dados passam a circular livremente no Judiciário frente a uma postura impassível de organismos de fiscalização da atividade pública, o que em nada ajuda a melhorar no eleitorado a percepção sobre as informações que lhe chegam neste momento e deveriam ajudá-lo a formar posição sobre em quem votar em outubro próximo. Afinal, quem mente ou omite agora, por hábito ou estratégia, emite como sinal claro também que acabará fazendo muito pior depois de eleito, com um mandato em mãos.

Legado dinâmico

Tão logo a Seleção Brasileira levou a goleada de terça-feira, um comentário circulou na internet, principalmente via WhatsApp, atribuindo a acachapante derrota nacional à prevalência do improviso, do amadorismo e da falta de planejamento em detrimento da competência e do preparo. Com claro teor político, senso de oportunidade e referências explícitas, em determinado trecho, ao universo petista, viralizou de imediato, levando rapidamente à conclusão de que a discussão sobre o legado da Copa será muito mais dinâmica do que se imaginou até a estrondosa vitória alemã.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
Comentários