30 de novembro de 2011 | 10:19

Valéria Bandida? Deputados e jornalistas ainda podem salvar premiação na Assembleia

Valéria Bandida e perigosa

Como na Bahia tudo se reconfigura, às vezes em termos nada gloriosos, convém jornalistas que cobrem o trabalho dos ilustres deputados estaduais, junto com eles, e o chamado Comitê de Imprensa da Casa, fazerem uma reflexão rápida sobre esse jogo em que se tornou a atribuição de premiações mútuas que se realiza ao fim de cada ano legislativo visando ao reconhecimento dos “melhores” de lado a lado.

Parlamentares e profissionais de imprensa e rádio poderiam começar clareando os critérios para a escolha dos “destaques” entre os deputados e os jornalistas que fazem a cobertura do Legislativo e para uma nova categoria, criada no ano passado, e cuja atribuição de prêmios, questionável, mas que ainda pode ser salva, ocorreu agora – a dos quadros que se destacam no Executivo em seu primeiro e segundo escalões.

No caso dos prêmios que se dão mutuamente, repórteres e legisladores deveriam proibir desde já a realização de campanha, senão entre os deputados, cujo hábito de pedir votos, convenhamos, será muito difícil de modificar, pelo menos por parte dos jornalistas que, para se manterem isentos na cobertura, não podem, com disse hoje uma nota da coluna Raio Laser, da Tribuna, negociar nada, nem mesmo votos, com seus ilustres e temporários eleitores.

Relatos registrados ontem na Assembleia davam conta da “Valéria Bandida”, na falta de expressão melhor, em que se transformou a premiação. Um jornalista contou ter sido acordado na quase madrugada do dia anterior por um deputado pedindo voto. Na maior desfaçatez, o político, com quem nunca havia trocado uma idéia antes, certificando-se de que o interlocutor recuperara-se do susto causado pelo telefonema e recobrara a vigília, torpedeou: – Se votar em mim, meu voto em você está garantido!

O jornalista voltou a dormir apreciando a figura da mulher ao lado, que roncava, inocente, certo de que ouvira uma proposta indecente. Felizmente! Na outra ponta, políticos se divertiam com o assédio que passam a sofrer, no período, por parte de alguns jornalistas. Alguns, valham-lhes Deus, os políticos, com domínio de uma nova técnica que devem ter aprendido na Casa – a da tocaia aos parlamentares – cujos detalhes é melhor que se poupem a todos.

Confirmando que a “tocaiagem”, digamos assim, tem a sua importância, um deputado chamou ontem um repórter no canto, minutos depois de encerrada a votação, e sapecou: – Voce não me pediu voto. Então, não votei em voce. Só voto em quem me pede! Mais uma prova de que os envolvidos na disputa esqueceram-se do conceito de que o prêmio deve ser apenas um reconhecimento ao trabalho que se faz dos dois lados em benefício da sociedade e não uma troca ou um… pacto.

Por tudo isso, se não quiserem avacalhar de vez com a premiação, importante como mais um mecanismo de informação para o eleitor, é importante que deputados e jornalistas repensem o que acontece na Assembleia, aproveitando a oportunidade para reforçar, também com a definição de critérios claros, que o prêmio aos membros do Executivo não deve vir do nível de atendimento cartorial que prestam aos deputados, individualmente, mas do empenho com que servem à sociedade.

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