Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Vontade de Mangaba

Hoje acordei meio esquisito. Logo pela manhã quis dar um suco de mangaba para minha filha pequena enquanto procurava umas bananas maçã para comer durante o café. No almoço a coisa piorou um pouco, já que me deu uma vontade de comer um doce de pitanga de sobremesa. Creio que isso foi reflexo do sonho que tive esta noite. Eu andava em um mercado quando achei em uma barraca uma lâmpada, ao estilo daquelas dos contos de fada. De onda, peguei a lâmpada e esfreguei e eis que aparece um gênio que me concede um desejo, mas com uma condição: eu seria transportado para um lugar qualquer e teria que adivinhar que lugar era aquele. Óbvio que topei e, então, o tal gênio me leva para o meio de um shopping center, sem uma viva alma. Eu teria que descobrir o lugar apenas olhando as lojas e as vitrines.

Para meu desespero só vejo lojas de marcas conhecidas. Quer dizer, só encontro lojas que existem em qualquer shopping de qualquer grande cidade do país. Em alguns corredores as coisas são ainda piores já que nem ao menos sei dizer em que país estou, já que todas as marcas são internacionais e os anúncios das vitrines estão todos em inglês. Depois de horas correndo desesperado, desisto e vejo meu gênio da lâmpada desaparecer levando com ele a ilusão de uma vida mansa, tranquila e sem nenhum tipo de preocupação que me seria concedida com a realização de meu desejo.

Ao acordar me recordei de uma discussão que acompanhei sobre subsídios dados à produção agropecuária inglesa. Há certa altura o argumento era bastante simples e direto: não se tratava de proteger produtores ineficientes da competição contra competidores mais produtivos. A proteção ao campo inglês representava a proteção a um modo de vida que havia moldado a cultura e a própria identidade do país ao longo de vários séculos. Os impactos da perda desta atividade seriam tão profundos a ponto de alterar a própria paisagem do país. A questão não poderia ser reduzida à discussão sobre qual é a carne mais barata na mesa do consumidor, mas a própria existência do gado Jersey, do Angus, do Devon, do Guernsey e do Hereford (entre inúmeros outros) na paisagem e o significado simbólico, imaterial dessa presença na identidade nacional. O mesmo argumento se estendia aos queijos (como o Gloucester, o yarg e o stilton), aos vegetais e por ai vai….

Voltando ao meu sonho, ficou claro que o gênio buscava me dar uma lição. Ele me mostrou que existe uma dimensão política envolvida no ato de consumo e que, por este motivo, decisões sobre o que comprar/consumir não somente envolvem, como precisam envolver outros elementos que não somente considerações econômicas sobre o custo final do produto. Valorizar o produto tradicional, localmente produzido, é uma das formas de contribuir para o crescimento e para desenvolvimento de nossa gente e de nosso país. Essa foi a lição que o sonho. Acho que este é motivo pelo qual acordei com vontade de Mangaba…Feliz consumo novo em 2015 para todos nós!

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