Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Por Enquanto

Não bastou a fusão do ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o de Comunicações; o rebaixamento da principal agencia de financiamento à pesquisa no país, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq), percebido pelos seus membros como um departamento do ministério das comunicações; não foi suficiente a suspensão dos editais de fomento e os diversos cortes nos investimentos em pesquisa ja efetivados. Isso tudo sobre uma base que tradicionalmente já bastante reduzida em nosso país que é o investimento em pesquisa e desenvolvimento. Não podemos nos esquecer do contexto já desfavorável criado pela PEC 241, a do teto de despesas do governo federal, que tem sido traduzida como cortes nos orçamentos da educação e da saúde. Nesta semana o próprio CNPq anunciou que estudava um corte linear nas bolsas de pesquisa já concedidas na ordem de 20-30%.

Como miséria pouca é bobagem, o ministro que comanda a pasta das comunicações propôs, nesta mesma semana, mais um aumento do já bilionário fundo partidário. Venhamos e convenhamos que a luz dos infindáveis e sucessivos escândalos, enterrar mais dinheiro público no financiamento de partidos políticos não parece ser uma prioridade nacional. Parece mais piada de mau gosto. Apenas uma fração do aumento proposto aos políticos já seria suficiente para cobrir todo o orçamento destinado à pesquisa.

Essa perversa combinação de corte e aumento se mostrou particularmente explosiva. Assim, em um ambiente já conflagrado a noticia correu como rastilho de pólvora. Kriptonita pura!!!! Em poucos minutos os grupos de pesquisadores no WhatsApp passaram a informação adiante e as reações começaram a pipocar de todos os lados. Primeiro entre os membros dos comitês de assessoramento do CNPq, formado por pesquisadores experientes em suas áreas, depois pelas entidades cientificas que vão multiplicando notas de protesto. O passo seguinte são as ocupações de reitorias e as greves que ja se anunciam.

Não se pode alegar ingenuidade ou falta de experiência política, afinal, nesta esta altura do campeonato só tem macaco velho em campo. Também não se pode alegar desconhecimento de causa. Há muito se sabe que o tal mundo acadêmico é fonte de resistência ao establishment politico tradicional, de modo geral, e ao grupo que está no governo, de modo bastante específico. Assim, restam apenas poucas opções: ou somos governados por um bando de ignorantes que não conseguem enxergar um palmo à frente do próprio nariz e que não percebem que o corte em pesquisa hoje se traduzirá em maiores déficits no futuro próximo, que ciência e educação não são despesas, mas investimento; ou existe uma ação deliberada para desmontar o sistema de pesquisa baseado nos programas de pós graduação, uma das poucas áreas da política educacional que tem resistido e se mostrada bem sucedida ao longo dos anos. Neste caso, precisaríamos perguntar o que motivaria tal comportamento…

Pode que esteja sofrendo da síndrome de Poliana, mas (por enquanto) prefiro crer na profunda ignorância dos nossos governantes.

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