Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

O Ceticismo e o Mar de Lama

Nos meus últimos textos venho manifestado o meu desânimo e o meu pessimismo em relação aos rumos de nosso país. Queria deixar uma coisa clara, eu não sou pessimista, estou pessimista e sou um cético. E meu ceticismo é tão velho começo a achar que ele está comigo desde sempre… Tendo vivido boa parte de minha adolescência e entrado na vida adulta acompanhando sucessivos planos econômicos que iriam salvar o país, desenvolvi uma atitude de suspeição em relação a medidas econômicas e produtivas que são apresentadas como respostas finais e definitivas para qualquer coisa. Aliás, pensando bem, acho que a suspeita foi plantada em mim já na infância. Quem se lembra da campanha: “Ou o Brasil acaba com as saúvas ou as saúvas acabam com o Brasil!”? Bem, ainda estamos por aqui e as saúvas vão bem, obrigado…Talvez seja por isso que eu nunca me deixei levar pelo otimismo messiânico que grassa na propaganda do governo. De qualquer governo, não apenas nesse de plantão.

O desemprego diminuiu, ótimo! Mas quando você compara dados que são gerados com base no CAGED com outros que foram produzidos com as informações da RAIS; ou quando você muda a metodologia de calculo do PIB, mas não refaz cálculos para períodos anteriores de modo que não temos uma base segura de comparação; ou ainda, quando você exalta o tamanho do seu PIB, mas esquece de dizer que ele está superestimado pelo efeito da moeda supervalorizada, ai meu amigo, devagar com o andor que o santo é de barro. Esse é o motivo para o pessimismo, a desonestidade intelectual, a falsificação da realidade, a argumentação baseada na lógica de que os fins justificam os meios. O germe da discórdia deliberadamente plantado e cultivado como método de governo.

Entretanto, a crise atual tem um componente que nunseviuatesnahistoriadestepaíz! A corrupção transborda dos gabinetes do poder e parece destruir o que resta de alma no povo brasileiro. Exatamente como a lama tóxica de Mariana, a lama de Brasília faz terra arrasada por onde passa deixando um rastro de destruição e desesperança. Focos de resistência aparecem aqui e ali, comunidades se mobilizam, cobram reparação do dano e prisão dos culpados, grupos independentes se manifestam e divulgam informações quebrando a ormetá, código de silêncio, da ORCRIM (organização criminosa, nas palavras do ministério público).

Não se sabe ainda se um lava-a-jato será suficiente para limpar a lama que se espalhou a partir de Brasília. Mas a medida que a limpeza avança, novos personagens vão surgindo e se ligando à outros já nossos velhos conhecidos. Às vezes dá a impressão de que estamos diante de uma grande família que decidiu atuar como quadrilha tal o envolvimento e o entrelaçamento das relações dos seus participantes. Os valores descobertos, a extensão dos roubos e dos desvios, o cinismo dos envolvidos que mesmos pegos com a boca na botija alegam inocência e, pior, a nítida sensação de que não sabemos quase nada da verdade dos fatos, dá a sensação de impotência e nos deixa perplexos: haverá limites para essa gente?

Ontem a ministra Carmem Lúcia produziu uma daquelas frases que pela sua simplicidade e força tem tudo para ser lembrada durante muito tempo. Algo mais ou menos assim: Assistimos a esperança vencer o medo, mas na ação penal 470 (mensalão) se viu que o cinismo venceu a esperança. Agora assistimos ao escárnio vencendo o cinismo. Mas para aqueles que navegam nessas águas turvas, um aviso: o crime não vencerá a justiça!!!! Mas… se o mar de lama se espalha pelo executivo e pelo legislativo, como acreditar que o judiciário não foi afetado?  Com todo respeito Ministra, é o meu ceticismo falando mais alto….

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