Lucas Faillace Castelo Branco

Direito

Lucas Faillace Castelo Branco é advogado, mestre em Direito (LLM) pela King’s College London (KCL), Universidade de Londres, e mestre em Contabilidade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). É ainda especialista em direito tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET) e em Direito empresarial (LLM) pela FGV-Rio. É diretor financeiro do Instituto dos Advogados da Bahia (IAB) e sócio de Castelo e Dourado Advogados.

Não há crise

De um tempo para cá, tem-se afirmado reiteradamente que o Brasil passa por uma crise moral, ante a constatação dos diversos escândalos de corrupção que assolam o país. A palavra crise, de origem grega, pressupõe mudança súbita do estado de coisas. Quer-se dizer, então, que houve uma piora no padrão moral do brasileiro. Tenho minhas dúvidas quanto a isso. O desvelamento dos escândalos pela mídia implicou apenas isso: a revelação de práticas centenárias que permeiam a vida social brasileira, o que não deveria gerar tanta surpresa. Não há crise, portanto, de acordo com o sentido da palavra apresentado.

Basta folhear os livros de história para perceber que está tudo como dantes no quartel de Abrantes. A literatura também é boa fonte. Se as operações tais e quais vão transformar o Brasil para melhor, como muitos pensam, é cedo dizer, mas creio que não, ou não de forma substancial. Para uma mudança relevante a curto prazo, teria de haver uma mudança brusca de mentalidade e, obviamente, a transmissão de novos valores para as gerações vindouras, até estes valores se tomarem uma segunda natureza em nossos cidadãos.

Tarefa não muito fácil, convenhamos. Não é o ministro Moro, os procuradores da Lava-Jato ou Bolsonaro, como muitos querem acreditar ou acreditavam, que vão moralizar o país. E não esqueçamos: eles também são brasileiros como todos nós e, portanto, estão sujeitos aos mesmos vícios (e qualidades, lógico). Nada mais perene e profundo do que os hábitos herdados de nossos antepassados.

Não sei qual a fórmula para mudar o país para melhor, nem tenho a pretensão de tê-la. Há quem diga: com educação. É verdade, claro. Educação tem que ser entendida de forma ampla: tanto a educação formal quanto, senão mais importante, a educação familiar, a do círculo íntimo da criança, que é a fonte de referência mais forte capaz de moldar o caráter. Mas como educá-los para um padrão tal quando os educadores não são educados no padrão pretendido? É como querer salvar-se de um afogamento puxando-se a si próprio pelos cabelos.

Quando as “autoridades” desta República falam da estabilidade das instituições, fazem-me rir. Que estabilidade? Que instituições? Aqui reina mesmo é a confusão, reconheçamos, um carnaval de 365 dias por ano, este sim a única instituição consolidada. Verdade seja dita: não existem instituições no Brasil, existem pessoas. As ditas instituições não têm a impessoalidade necessária para carregar esse nome.

Por estas bandas, mais importante do que essa ou aquela lei, é conhecer o funcionário do balcão, que é maior do que a Constituição, como diria um amigo. E conhecer também suas idiossincrasias, para dizer o mínimo. Há quem faça desses relacionamentos pessoais um meio de vida e, tenho de reconhecer, é um ativo que não pode ser desprezado, pois a realidade está posta. Salve-se quem puder.

A situação é grave, mas crise mesmo, não há.

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