Foto: Gabriela Biló/Estadão
Marcelo Crivella 20 de setembro de 2019 | 08:34

Pastor da igreja protestante mais antiga de SP critica ações de Doria e Crivella

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Governantes jamais devem se valer do Estado “para impor qualquer tipo de moralidade cristã à sociedade”. A recomendação partiu do pastor Valdinei Ferreira, à frente do mais antigo templo protestante da capital paulista, a Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, de 1865. E os alvos eram explícitos: o prefeito carioca, Marcelo Crivella (PRB), e o governador paulista, João Doria (PSDB).

Em culto na Catedral Evangélica de São Paulo, domingo (15), Ferreira pregou: “O estilo de vida cristão é fruto de uma escolha do coração, jamais da coerção”.  No início da pregação, o líder evangélico explicou aos fiéis o contexto de sua fala: o envio, à Bienal do Livro, de fiscais da Prefeitura do Rio para censurar um gibi com dois super-heróis homens se beijando, e a ordem de Doria para recolher material escolar que abordava questões de identidade de gênero.

“Embora eles argumentem que agiram com base nas leis do Brasil [ECA e legislação que regulamenta a área educacional], o contexto motivador da ação é a sinalização para parte do eleitorado cristão que vê com bons olhos o uso do Estado para o enquadramento da sociedade naquilo que julgam ser uma moralidade cristã na área dos costumes”, disse o pastor à Folha.

Na igreja, ele questionou o que estaria por trás da ação dos dois políticos. “Como não nasci ontem, também sei que no cenário mais amplo está uma determinada visão de mundo que é informada religiosamente. Não vem ao caso aqui se a motivação religiosa por detrás das ações é genuína ou apenas para agradar determinado eleitorado.”

Doria e Crivella, continuou, seriam apenas casos ilustrativos de uma questão mais extensa: “Faz parte da vontade divina que autoridades da esfera civil fomentem comportamentos da moralidade sexual? Cristãos, enquanto cidadãos, devem pressionar autoridades civis para que as leis e as políticas públicas estejam alinhadas o máximo possível com suas convicções religiosas, ou seja, com aquilo que entendem ser a vontade de Deus para a sociedade?”.

Ferreira acha que não. Ele lembrou de dois ícones da Reforma Protestante, que há 502 anos provocou um cisma no cristianismo (então predominantemente católico). Martinho Lutero e João Calvino “trataram de separar Estado e Igreja, separar a esfera de governo temporal da esfera de governo espiritual”, apontou.

Folha de S.Paulo
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