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Ex-juiz Sérgio Moro tem sido abertamente fritado pelo presidente Jair Bolsonaro 26 de agosto de 2019 | 11:50

Para resguardar seu capital político, Moro deveria deixar imediatamente este governo

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Não dá para exigir do ex-juiz Sérgio Moro grande visão política. Sua decisão de largar o comando da Lava Jato para associar-se a um governo como o de Jair Bolsonaro (PSL) foi a primeira prova que deu ao país de que a política, infelizmente, como se desenrola enquanto atividade específica com códigos e procedimentos próprios, não é a sua praia.

A opção de Moro mostrou que o fato de ter exibido raro senso estratégico e de oportunidade como profissional da Justiça, essenciais para que conseguisse iniciar o processo de desbaratamento de uma poderosa organização criminosa, neste episódio em particular, esteve longe de credenciá-lo para que se jogasse no campo do jogo político em Brasília propriamente dito.

O resultado é o que se vê hoje abertamente: um ministro da Justiça desprestigiado que assiste impassível a sua agenda contra o crime ser descaracterizada e ao desmonte de instituições de controle imprescindíveis, como o COAF, que até de nome o presidente já mudou, a Receita e o Ministério Público Federal, para cujo comando Jair Bolsonaro procura um titular que esteja afinado com suas pautas ideológicas e de costumes.

Neste cenário, melhor faria o ex-juiz que se despedisse o quanto antes do Ministério da Justiça, de onde vem sendo fritado claramente pelo presidente, como já disse algumas vezes o site O Antagonista. O conselho deveria ser ouvido pelo ministro caso ele pretenda ou não concorrer à sucessão presidencial de 2022, mas principalmente no caso de querer entrar na disputa.

O ex-juiz ainda é o verdadeiro ícone da Lava Jato, da qual Bolsonaro vem se distanciando a partir das investigações que miraram seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL). As manifestações deste domingo tiveram o apoio a ele como um dos seus propósitos. As pesquisas confirmam que Moro é mais lembrado do que o presidente para as próximas eleições presidenciais, outro motivo da cizânia.

A idéia de que sua presença no governo poderia ajudar a dar algum nível de racionalidade à gestão, além de fortalecer a tutela sobre um presidente que é uma bomba ambulante, já se mostrou infrutífera. Até para que Moro possa manter seu capital político para qualquer projeto futuro que pode não ser o dele, mas de alguém melhor do que este que está aí, seria interessante que deixasse o governo.

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