Foto: Adriano Machado/Reuters_
Jair Bolsonaro (PSL) 27 de agosto de 2019 | 11:27

“Desilusão” e “quebra de expectativas” justificam aumento da desaprovação de Bolsonaro, avaliam estudiosos

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Divulgada nesta segunda-feira (27), a pesquisa da CNT/MDA apontou uma queda da popularidade pessoal do presidente Jair Bolsonaro (PSL), cuja desaprovação alcançou 53,7%, contra 28,2% de fevereiro. Feita entre os dias 22 e 25 de agosto, a avaliação da CNT coincide com um período de sucessivas crises do governo, sobretudo a questão ambiental, que maculou internacionalmente a imagem do Brasil e desencadeou, internamente, conflitos e embates dentro da própria estrutura governamental.

Entretanto, apesar de ser essencial na queda da aprovação, as questões ambientais estão imersas em contextos mais estruturais, dizem estudiosos. Para o pesquisador e cientista político, professor Joviniano Neto, “as esperanças em relação a Bolsonaro já se frustraram e o apoio dele está cada vez mais reduzido ao núcleo duro, ao número de pessoas que apoiaram ele desde o começo, que varia de 15% a 20% ”. O professor Carlos Zacarias, diretor do Departamento de História da UFBA, concorda com a tese e diz que “a tendência é continuar caindo e vai restar apenas aqueles cerca de 20% a 25%, no máximo, que representa mesmo o ‘bolsonarismo’ e dialoga com os preconceitos todos, com as posições ideológicas” do presidente.

Em conversa com este Política Livre, as análises feitas pelos pesquisadores também se aproximam na afirmativa de que a elevada expectativa criada em torno da eleição de Bolsonaro já não se sustenta. “Uma boa parte das pessoas que votaram nele por ser contra o PT, contra a corrupção, já está desiludida, esse é o primeiro elemento. O outro é que por uma série de circunstâncias, uma parte da população queria uma coisa nova e acreditava que ele teria força para mudar o sistema, para mudar tudo que está aí, resolver a questão da segurança, do emprego, as grandes questões nacionais. Essa esperança já se frustrou. Não apareceu mais emprego, não pareceu mais segurança. Nos oito meses não houve melhorias. Bolsonaro dá uma declaração desastrosa atrás da outra. Isso desgasta a imagem e a confiança”, associa Neto.

“Bolsonaro já é eleito em meio a uma expectativa imensa de setores que foram convencidos de que os males do Brasil nos últimos 30 anos – que coincide com a redemocratização – tem a ver com o tipo de política que se aplicou, que para os leitores de Bolsonaro é a esquerda. Criou uma imensa expectativa. É um fenômeno meteórico que conduziu ao cargo uma figura que em outras circunstâncias jamais ganharia. O problema é que a queda não é acompanhada de uma alternativa. As pessoas tendem a desembarcar do ‘bolsonarismo’, mas também não querem se vincular a outro projeto, sobretudo ao que ajudaram a derrotar, que é o PT”, sinaliza Zacarias.

Amazônia – Sobre a crise instalada em consequência do fogo da Amazônia, Neto avalia que “a questão ambiental mostrou impacto indiscutível e ele [Jair Bolsonaro], no final das contas, está passando pelo teste da realidade”. As recentes queimadas na Amazônia fez as grandes potências mundiais se voltarem para o Brasil, a exemplo do presidente francês, Emmanuel Macron, que convocou reunião do G7 , além de ventilar o risco de boicote ao agronegócio brasileiro. “Ele [Jair Bolsonaro] tinha [na campanha] apoio dos fazendeiros, ruralistas mais reacionários, que é o pessoal que convocou o ‘dia do fogo’”, completa Neto.

Mari Leal
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