Foto: Daniel Teixeira/Estadão
30 de agosto de 2019 | 08:19

Crise na Argentina favorece o turista brasileiro, mas só por enquanto

economia

A forte desvalorização do peso argentino e a declaração de moratória do país, feita na quarta (28), faz da Argentina um destino favorável para o turista brasileiro, mas só por enquanto. O peso argentino está desvalorizado, o que significa que o dinheiro dos turistas brasileiros está valendo mais. A Argentina, no entanto, tem uma inflação alta —o acumulado dos últimos 12 meses é de 55%— e que continua crescendo. Isso neutraliza parte do ganho de poder de compra proporcionado pela moeda mais barata, explica Vinícius Müller, doutor em história econômica e professor do Insper. Ainda assim, por causa do peso desvalorizado, hoje a Argentina está mais em conta para o turista brasileiro do que há alguns meses.

Um levantamento da operadora de turismo CVC apontou que o valor em dólar de alguns produtos no país vizinho caiu quase pela metade de 2018 para cá. Empanadas, água, refrigerantes, cerveja e refeições estão custando hoje pouco mais da metade do que custavam em 2018, mesmo quando o valor é convertido em reais. Ainda segundo dados da CVC, uma empanada, que em 2018 saía por R$ 6,89, hoje é encontrada por R$ 3,93. Uma refeição simples, para uma pessoa, passou de R$ 68,94 para R$ 35,71. Esse efeito, no entanto, não deve durar muito tempo. Como a Argentina é um importante parceiro comercial do Brasil, a crise do lado de lá pode afetar a moeda de cá, que também pode perder valor.

“Se a Argentina tem capacidade menor de importar do Brasil, o mercado entende que isso vai prejudicar o nosso país e que a moeda brasileira será desvalorizada”, afirma Müller. Mas, como o Brasil é uma economia maior e mais estável do que a Argentina, essa desvalorização tende a ser mais branda e lenta. Segundo o professor do Insper, quem for viajar para a Argentina dentro de um mês ainda terá poder de compra alto. Depois disso, a moeda brasileira também pode se desvalorizar, anulando esse ganho. Nesse cenário futuro, uma opção é comprar dólares agora no Brasil e guardá-los para trocar na Argentina, já que o peso deve continuar perdendo valor frente a moeda americana. “Quem fizer essa conversão em dólar tende a ganhar, porque dificilmente a Argentina terá um processo de recuperação rápido”, diz Müller.

A tendência é que o processo inflacionário no país continue, ainda mais se o candidato a presidente Alberto Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice, confirmar na eleição de 27 de outubro a vitória prevista pelas eleições primárias, realizadas no último dia 11. “Dependendo de como forem os discursos da Kirchner e de Fernández, se eles ganharem, o mercado vai reagir de maneira negativa e agressiva”, afirma o professor. Quem vai à Argentina deve ainda prestar atenção na forma de pagamento. Segundo reportagem publicada pela Folha nesta quinta (29), os turistas podem conseguir descontos de até 20% em restaurantes se optarem por pagar em dinheiro, em vez de usar o cartão de crédito.

Isso porque muitos donos desses estabelecimentos não aceitam mais os cartões por medo de perder valor entre a data da compra e o dia em que recebem o valor da operadora. Mas usar o cartão de crédito brasileiro na Argentina pode trazer vantagens ao turista, já que o total da compra em peso poderá ficar menor na data de fechamento da fatura, caso a moeda do país siga se desvalorizando.

Folha de S.Paulo
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