24 de agosto de 2019 | 18:45

Brasil conclui testes de soro inédito para picadas múltiplas de abelha

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Após dez anos de estudos e testes, o Brasil está se preparando para ser o único país do mundo a produzir o soro antiapílico – contra múltiplas picadas de abelhas. Os pesquisadores responsáveis pelo projeto, Marcelo Abrahão Strauch, do Instituto Vital Brazil (IVB), e Rui Seabra Ferreira Júnior, do Centro de Estudos de Venenos de Animais Peçonhentos (Cevap) da Universidade Estadual Paulista, querem submeter, ainda este ano, ao Ministério da Saúde e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os relatórios com os resultados positivos alcançados nos ensaios clínicos da primeira fase, que envolveram testes em 20 pessoas mordidas por muitas abelhas. A fase 3 de testes será iniciada após a aprovação do ministério e da Anvisa e prevê o recrutamento de 150 a 200 pessoas que tiveram múltiplas mordidas de abelhas, atendidas em 32 hospitais pertencentes à rede nacional de pesquisa pública. Os resultados das pesquisas farmacológicas com o soro antiapílico serão apresentados por Marcelo Abrahão Strauch no Congresso Mundial de Toxinologia, que será realizado na Argentina, em setembro. Caso tudo corra bem na nova fase, a previsão é que o soro seja disponibilizado para a população entre 2021 e 2022. Após os ensaios da fase 3, os resultados serão novamente submetidos à Anvisa, para que o registro do produto possa ser efetuado.Envenenamento tóxico Ferreira Júnior esclareceu que o soro antiapílico será produzido pelo Instituto Vital Brazil, órgão do governo fluminense. De acordo com os pesquisadores, o soro deve ser aplicado em casos de envenenamento tóxico, isto é, quando a pessoa é vítima do ataque de um enxame. Para os casos de indivíduos alérgicos picados por uma única abelha, o tratamento é específico e abrange medicamentos comuns. O antídoto brasileiro é inédito. Atualmente, há 45 produtores de soros para animais peçonhentos no mundo, mas nenhum fabrica o soro para envenenamento tóxico por abelhas. “O Brasil é pioneiro”, destacou Strauch. Após ganhar o registro, a disponibilização do soro será gratuita.  Acidentes Segundo Strauch, a abelha faz parte do grupo dos animais peçonhentos, que se caracterizam por possuírem glândulas que produzem e secretam veneno. Picadas múltiplas de dezenas ou centenas de abelhas podem gerar intoxicação. Há casos de choque anafilático que podem levar o paciente à morte. “A letalidade é alta por um ataque de múltiplas abelhas por causa da quantidade de veneno que o paciente recebe e não tem o antídoto”. A estimativa é que ocorram cerca de 10 mil acidentes com picadas de abelhas por ano no Brasil. Marcelo Strauch avaliou que o número pode ser muito maior, tendo em vista as subnotificações. O pesquisador afirmou que os acidentes por enxames de abelhas resultam em 40 óbitos notificados anualmente no Brasil. O projeto contou ainda com apoio do Ministério da Saúde, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

Agência Brasil
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