04 de julho de 2019 | 07:03

A operação dos “camisas verdes”, por Raul Monteiro *

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Alvo de uma bem orquestrada manobra do presidente da Câmara Municipal, Geraldo Jr. (SD), para evidenciar o que seria a desarticulação política do governo ACM Neto (DEM) na Câmara Municipal, em tese, sob a sua responsabilidade, o líder governista Paulo Magalhães (DEM) sentiu o golpe. Em conversa com jornalistas, colocou a culpa da aflição por que passou ontem no plenário da Casa no que classificou como “divergência” entre Poderes. Magalhães se referia ao fato de, de última hora, Geraldo Jr. ter colocado para votação um projeto da Prefeitura que concede isenção de ISS às empresas de transporte coletivo.

Fora uma resposta do presidente da Câmara a declarações dadas pela manhã pelo secretário municipal de Mobilidade Urbana, Fábio Mota, cobrando dos vereadores a votação da matéria sob pena de a Casa poder ser responsabilizada por um eventual aumento da tarifa dos ônibus. Depois de mandar sua assessoria avisar aos jornalistas que prometia dois pronunciamentos contundentes para a tarde, Geraldo Jr. abriu a sessão protestando contra as chamadas “forças ocultas” que, segundo ele, estão sempre querendo garrotear a independência do Poder, e fez uma consulta aos líderes – do governo e da oposição – sobre a viabilidade de votar a matéria.

Não houve quem não dissesse que, apesar de não concordar com que o projeto de isenção fosse apreciado de forma açodada, atendia ao seu apelo para votá-lo ali, naquele momento. O presidente da Câmara passou, então, a bola para o líder do governo a fim de que encaminhasse a votação. Ao olhar à sua volta e ver que não contava com um número mínimo de 29 vereadores da base para aprovar a matéria, Magalhães foi forçado a recuar e admitir que não podia colocar o projeto em votação. Foi a glória da oposição ao prefeito na Câmara Municipal, que a saboreou sob o patrocínio ostensivo de Geraldo Jr.

A partir dali, a oposição pode ver a tensão em que o líder do governo submergiu, enquanto tentava sem sucesso derrubar a sessão pedindo contínuas verificações de quórum, ao tempo em que assistia o presidente da Câmara lhe garantir, sob holofotes e com o microfone à disposição, que só colocaria o projeto em votação se Magalhães assim lhe solicitasse. O líder do governo sabia do perigo que ele e a Prefeitura corriam. Caso a matéria fosse a votação e não pudesse ser aprovada por insuficiência de quórum, por exemplo, o projeto morreria, só podendo ser reapreciado no próximo ano, o que deixaria a Prefeitura perigosamente descoberta no assunto.

Foram algumas poucas horas que pareceram durar uma eternidade a Magalhães, mas puderam mostrar que quem estava ali na Praça Municipal com o poder, naquele momento, era um outro líder, que começou a operar com os chamados “camisas verdes”, um pequeno grupo de vereadores que vestiu o traje com o L de Líder com que ele se identifica e o acompanhou pelas ruas do Centro Histórico no desfile do 2 de Julho, na última terça-feira, convencido de que a Câmara pode ter um candidato à Prefeitura de Salvador no ano que vem. Depois do Cortejo, foi o primeiro lance dos “camisas verdes” para mostrar, no susto, que o jogo que está só começando tem de tudo, menos amadores.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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