Foto: Divulgação/Arquivo
Gerson Brasil 12 de junho de 2019 | 07:34

O Centrão, de adversário a salvador da reforma, por Gerson Brasil*

bahia

Pouco mais de cinco meses depois de empossado, o governo de Jair Bolsonaro ainda deve explicações ao inconformismo de um poder régio patrimonialista de estado, momentaneamente fora do poder, mas que nem por isso perdeu a solenidade; e cuja legitimidade está assentada “no tradicionalismo, assim é porque sempre foi”, como bem definiu Raymundo Faoro.

Nesse tempo especularam-se várias opções para corrigir, mudar, edificar, ou quem sabe até impor, se não o impeachment, o Parlamentarismo, com o objetivo de dar ordem e progresso a uma sucessão e “desvios”, “erros”, “trapalhadas”, enfim, uma “balbúrdia” governamental ensurdecedora, que torna o “diálogo” impossível, no entender do Centrão, coadjuvantes e bambos.

Para reverter a situação é necessário, como sempre, “colocar o bonde nos trilhos, fazer a economia voltar a crescer e redimir os pobres” – que sempre estarão conosco, como diz modestamente a Bíblia (João 12). No lugar da revolução, a Igreja propôs a caridade, hoje salpicada de programas sociais e ambientais. No entanto, Marx, materialista, enxergou nesse programa a alienação e a dopagem, e como corretivo indicou uma mudança pelas armas.

A ideia não vingou, descobriu-se que a verdade não estava no Pravda, mas ainda persiste em alguns países da América Latina (o bolivarianismo). Em lugares como o Brasil, foi traduzida para o socialismo, com o modelo petista produzindo 12 milhões de desempregados. Mas para voltar ao poder é preciso, primeiro, convencer a massa a emitir a outorga, mediante eleição, ou pelo método mundialmente conhecido como “natoralmente”. Acontece, sempre acontece, que a próxima eleição presidencial está bem distante.

Não sendo possível extrair o inimigo do campo político, devido às consequências apontadas nos registros históricos recheados de truculência, resta empreender uma guerra fria; solapar o adversário (“Quando a popularidade do presidente cai, a confiança dos investidores em aplicar os seus recursos no Brasil também cai”), diminuir suas conquistas, enfim, enfraquecê-lo, como fez Voltaire ao falar sobre a mulher: “seu sangue é mais aquoso”.

Premido pelas manifestações de rua, que advogavam a reforma da Previdência de Guedes, o pacote anticrime de Moro e o combate à corrupção; e com fortes críticas ao Supremo Tribunal Federal, bem como a Rodrigo Maia, presidente do Congresso Nacional, apareceu um estranho pacto. Não entre partidos, mas sim pelas mãos do presidente do Supremo Tribunal Federal.

Toffoli poderia ser mais preciso e dizer de bate-pronto: “Façamos a revolução antes que o povo a faça”. A frase, atribuída ao governador de Minas Gerais, Antônio Carlos de Andrada, embasou a revolução de 30, que levou Getúlio ao poder, carregado pela burguesia, tenentismo, oligarquias e partidos de direita. Mas, passado o eflúvio das manifestações de rua, Rodrigo Maia prometeu que a reforma da Previdência vai ser aprovada, e, sem cerimônia, elegeu o Centrão como a cavalaria americana.

Não se sabe se com ou sem a presença de Rin Tin Tin. Para o deputado, é um erro tratar de forma depreciativa os partidos que integram o Centrão. Na sua acepção, esses abnegados podem entrar para a história como aqueles que “salvaram” o país. Sem ser oficial, mas de certa forma porta-voz da agremiação, Maia se entregou à tarefa da reforma sem contar com os instrumentos que permitem a instauração de mecanismos de intermediações, que vão do financeiro às concessões públicas, privilégios de produção, e outras mercadorias. Uma tarefa difícil, e ainda administrar o desejo do DEM de sair do Centrão.

Para complicar ainda mais o ambiente, inexiste uma pauta do governo, e sim de Guedes e de Moro, que a população abraçou e, como visto, está bem longe a dar de ombros. Embora a espuma recaia sobre a Previdência, é a prisão em segunda instância o maior incômodo. A OAB já se posicionou contra.

Afinal, o colarinho branco, sem imunidade, pode vociferar pela injustiça cometida, e, quem sabe, num lance de raiva poética lançar mão de uma corruptela de Rimbaud – Uma Estadia no Inferno -, e dizer: “sentei no banco da cela e a achei amarga, a detestei”. Convenhamos, banho frio é uma merda.

Prisão para o andar de cima e afilhados é como pule premiada, dificilmente se encontra em ponto de ônibus.
Não fosse a elegância do cargo, mas sem o reconhecimento simbólico da “caneta diálogo, nas mãos de Bolsonaro”, Rodrigo Maia e aliados estariam na condição de estafetas, mas com poder destrutivo. Ressalte-se o fato de Maia ter colocado no bolso todos os demais profissionais da política – vide Alckmin, com o seu “nem bolsonarismo, nem petismo”.

Mas ao se lançar acertadamente no embate político, pela reforma da Previdência, mesmo contrariado e com todas as dificuldades, o presidente do Congresso tem a possibilidade de dividir a foto com Bolsonaro e utilizá-la em 2022.
Enquanto isso, o presidente armado, mas, distraído – privilégio só concedido às mulheres e às crianças -, se preocupa em ser leniente com motoristas infratores.

Sem partido e nem tropa de choque, e sequer o exército de Branca Leone, Bolsonaro se dedica a provocações: “Se vocês fizerem uma boa reforma política eu não disputo a reeleição”. O que todo governo quer é o segundo mandato, aqui e no Butão.

Mas, ao mesmo tempo acena com recursos para os estados, desde que façam o dever de casa.
É nessa “balbúrdia” que o país está preste a fechar um acordo com a União Europeia. Um mercado nada desprezível, de aproximadamente 15 trilhões de dólares.

Os extravagantes e aborrecidos caminhos da política em certos momentos requerem uma pausa, com uma boa e doce canção. No YouTube Andrea Motis, com voz e sax, recria Georgia on my mind, de maneira inclusiva. https://www.youtube.com/results?search_query=andrea+moris+georgia+my+mind

* Gerson Brasil é jornalista e editor de Economia da Tribuna.

Gerson Brasil*
Comentários