24 de maio de 2019 | 12:09

Especialistas franceses irão ao Brasil para entender políticas do governo Bolsonaro, diz Ernesto

brasil

O Brasil receberá especialistas franceses em políticas ambientais e direitos humanos para atestar sua conformidade nessas áreas com padrões globais, afirmou nesta sexta-feira (24) o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. Ele participou nesta semana em Paris da reunião que selou o apoio dos Estados Unidos ao ingresso brasileiro na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), colegiado que dá a seus membros um “selo de qualidade” que tranquiliza e atrai investidores.Na sexta, Ernesto se encontrou com seu homólogo francês, Jean-Yves Le Drian, para discutir o comércio bilateral e parcerias em áreas estratégicas, como a defesa. “Surgiram algumas percepções equivocadas aqui na França e em outros países europeus sobre nossas políticas ambientais e de direitos humanos”, disse o ministro, acrescentando se tratar da única área em que há ruído na conversa Brasília-Paris. “Então, eu ofereci aprofundarmos o diálogo de diferentes maneiras nesses temas, com visitas de especialistas [ao Brasil]. Queremos mostrar que não é assim, [fazê-los] entender melhor as nossas políticas.” Segundo Ernesto, a tentativa recente da diplomacia brasileira de reaproximar o país dos Estados Unidos não estremece os laços com Paris ou, de forma mais geral, com a Europa. O chanceler disse ter ouvido do colega francês que não há objeções significativas ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, cuja negociação se arrasta há quase 20 anos. “Sabemos que a França normalmente tem preocupação com [o efeito de pactos comerciais sobre] certos setores da agricultura. Mas a mensagem política de interesse na conclusão do acordo foi muito clara.” Não foi o que sinalizou, no começo desta semana, o ministro da Agricultura francês, Didier Guillaume, ao afirmar que tratados de livre-comércio não podem ser firmados “em detrimento dos padrões europeus”.
O posicionamento foi reiterado na quinta (23), em comunicado no qual o chefe da pasta expressa sua contrariedade a qualquer parceria “que prejudique os interesses dos agricultores e consumidores franceses, as exigências de qualidade sanitária e alimentar […] e nossos engajamentos ambientais no Acordo de Paris”.
Ernesto, que também se encontrou com empresários franceses dos setores aeroespacial, de energia, açúcar e cosméticos, afirmou ter discutido com Le Drian a cooperação bilateral na produção de submarinos e helicópteros (sem informar metas concretas) e na difusão cultural. O Brasil acaba de anunciar a rede de institutos Guimarães Rosa, plataforma de divulgação no exterior da criação nacional. Sobre as manifestações em apoio ao governo previstas para este domingo (26) no Brasil, o ministro destacou o que considera ser um “caráter espontâneo” e a pauta “pró” determinadas medidas -reforma da Previdência, legislação anticrime etc. Questionado sobre o discurso anti-STF e anti-Congresso de alguns segmentos que irão às ruas, ele contemporizou, dizendo que a “dimensão de contestação” não é majoritária. O chanceler não indicou quando o presidente Jair Bolsonaro irá à Europa (ele por ora só foi a Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial, em janeiro), mas citou como possível destino a Itália, de governo simpático à gestão brasileira atual.

Folha de S. Paulo
Comentários