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Manifestantes tomaram as ruas do país contra os cortes para a Educação 16 de maio de 2019 | 08:30

E a rua começou a se movimentar, por Raul Monteiro*

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O fantasma das manifestações de 2013, hoje consideradas o embrião do movimento de insatisfação popular que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), de triste memória, ainda está muito vivo na memória dos políticos para que o governo Jair Bolsonaro (PSL) trate os protestos que correram o país ontem, contra o corte de recursos para as universidades federais, como simples reação de militantes de esquerda. É óbvio que adversários do atual governo, além de tê-las incentivado, participaram delas, mas com certeza não só eles se associaram ao protesto contra os cortes na área de educação.

O contigenciamento, ou nome mais bonito que se queira dar para a suspensão do dinheiro inicialmente previsto para irrigar custeio e investimento da educação superior, tem tudo para se tornar uma pauta agregadora contra um governo que tem oferecido muito pouca esperança ao país, além daquela com que o capitão reformado acenou na campanha tanto ao seu eleitorado raiz quanto àquele que buscava se ver livre do risco de uma nova gestão petista. Principalmente se as justificativas apresentados por quem o lidera são revistas com a rapidez típica do que é inconsistente.

No caso em tela, mudaram de revanche contra a balbúrdia de unidades cujos reitores eram abertamente de esquerda à necessidade de priorizar o ensino básico, passando depois à tese, provavelmente a verdadeira, de que, com a queda na arrecadação, o governo terá dificuldades para cumprir seus compromissos, sendo obrigado a remanejar e conter gastos, entre outros malabarismos, enquanto “emergem” os recursos capazes de fazer frente às obrigações. E aí reside talvez o problema de fundo mais grave com que o governo sequer tem conseguido lidar na medida da sua urgência e complexidade: a reativação da economia.

Pela desqualificação evidente de seu líder maior e a balbúrdia, esta sim verdadeira, em que a articulação política se transformou, janelas de oportunidade têm sido perdidas e, mais do que elas, iniciativas que possam influir positivamente em decisões de consumo e investimentos privados, sem os quais a economia não se move, atravancando tudo, inclusive, a capacidade de pagamento do governo. Parte do problema vem da dificuldade do presidente em entender que precisa assumir a paternidade das reformas de cujo desgaste, de forma infantil, tenta fugir.

Em matéria de economia, quando os dados são tratados de forma transparente, não há engano de si nem de outros. Todos os indicadores à disposição de quem tenha disposição de olhá-los são de que o ano está perdido do ponto de vista do crescimento, o que significa que o país entrará em seu sexto ano de recessão, sem mais gorduras a queimar. Algo que pode ser traduzido pela frase dita muito recentemente pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, segundo a qual “chegamos ao fundo do poço”, uns, naturalmente a maioria, muito mais do que outros.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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