Foto: Ammar Awad/Reuters
Cercado por forte aparato de segurança, Bolsonaro segue em direção ao Muro das Lamentações, em Jerusalém Oriental 01 de abril de 2019 | 17:00

Embaixador deve esperar Bolsonaro para consultas com Autoridade Palestina

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O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Al-Zeben, afirmou nesta segunda-feira, 1, que deve permanecer no Brasil pelo menos até o retorno do presidente Jair Bolsonaro de Israel, na próxima quinta-feira, 4. Ele ainda espera conseguir uma audiência com Bolsonaro após o retorno, solicitada por ele e outros embaixadores de países árabes há mais de 15 dias. “Ainda não recebi ordens concretas para voltar (à Cisjordânia). Possivelmente estão aguardando que acabe a visita do senhor presidente a Israel”, disse o embaixador ao Estado. “Até agora nada… Por enquanto fico aqui.” A Autoridade Palestina – que governa partes da Cisjordânia e à qual a embaixada no Brasil está subordinada – anunciou no domingo que entraria em contato com seu representante em Brasília para ‘consultas’ sobre a visita de Bolsonaro a Israel. A medida busca mostrar descontentamento com o anúncio feito por Bolsonaro de que vai abrir um escritório de negócios em Jerusalém. “O ministério das Relações Exteriores entrará em contato com o embaixador palestino no Brasil para consultas com o objetivo de tomar a decisão apropriada diante da situação”, disse a chancelaria palestina, segundo a agência Wafa. Na linguagem diplomática, consultar um embaixador sobre uma determinada crise representa uma espécie de agravo ao país no qual está o embaixador. A medida está um degrau abaixo da convocação do embaixador de volta para o país de origem e dois antes da ruptura de relações. Al-Zeben pretende reforçar o pedido de reunião, feito há mais de duas semanas, entre Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo e embaixadores de países árabes no Brasil, para o qual não obteve resposta até o momento. O objetivo, disse, é “preservar e cuidar das relações entre Brasil e mundo árabe”, que classificou como sendo “de uma importância sem igual”. Ele é decano do grupo de embaixadores. O embaixador criticou o anúncio da criação do escritório em Jerusalém. E sugeriu que o Brasil demonstre “equilíbrio” e abra uma representação similar em Jerusalém Oriental, que os palestinos almejam como capital de um futuro Estado, ocupada por Israel desde 1967. “Qualquer assunto que tenha a ver com Jerusalém eu acho desnecessário. Neste caso, o Brasil como país amigo e mantendo relações diplomáticas com os dois, deveria abrir também um escritório comercial no lado oriental para atender os negócios palestinos e brasileiros. O lado oriental é capital do Estado da Palestina. E aquele que pretendem abrir no lado ocidental, e deve ser… paralelamente poderiam abrir também no outro lado para mostrar equilíbrio”, considerou. Questionado sobre se o anúncio do escritório de negócios poderia prejudicar as relações comerciais entre Brasil e países árabes, o embaixador disse ‘esperar que não’. “Vamos tentar esclarecer esse assunto com autoridades brasileiras uma vez que retornarem ao Brasil”, afirmou. Ele desejou uma boa visita de Bolsonaro a Israel, mas que não seja prejudicial para os palestinos. “Esperamos que senhor presidente faça uma boa visita a Israel, que seja benéfica em todos os sentidos para o Brasil, e que não seja prejudicial para os vizinhos, neste caso para a Palestina”. Sobre o fato de Bolsonaro não ter descartado transferir a embaixada do Brasil em Israel até o final do mandato, o embaixador afirmou que, até lá, espera que o Estado palestino seja estabelecido. “Até o fim do mandato (de Bolsonaro) esperamos que o estado palestino seja estabelecido e, neste caso, levam as duas embaixadas, uma para lado palestino e outra israelense. Quero acreditar e pensar que esse é o pensamento do senhor presidente”, declarou.

Estadão Conteúdo
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