Foto: Divulgação/Arquivo
Governador Rui Costa 21 de março de 2019 | 07:58

Rui suspende conversa sobre deixar governo, por Raul Monteiro*

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Ao participar do chamado “Papo Correria” desta terça-feira, o governador Rui Costa (PT) respondeu a uma pergunta de um internauta surpreendentemente antenado com o cenário que deve ter tido impacto em seu grupo político. Ansioso, o cidadão queria saber se Rui deixaria o governo em abril de 2022, prazo para a desincompatibilização de políticos em cargos executivos, para concorrer a uma vaga ao Senado pela Bahia. Mais rápido no gatilho do que mocinho em filme de faroeste, Rui antecipou que é candidato apenas a concluir seu mandato de governador na Bahia.

Houve quem visse, naturalmente, na pergunta e, mais ainda, na resposta, apenas uma coincidência entre o interesse de um eleitor curioso e uma avaliação criteriosa de conjuntura, ainda que muito antecipada, da parte do governador. Mas não faltou também quem tenha interpretado a resposta pronta de Rui como um recado para aqueles que começam a se agrupar no governo em torno da idéia de que o vice, João Leão (PP), pode virar governador até 2020. Sem dúvida, se o movimento pró-João for desencadeado com tanta antecedência, tem potencial suficiente para minar a liderança natural do governador e desestabilizar sua gestão desde agora.

Não que se note qualquer participação do vice-governador diretamente no processo. Neste particular, é preciso reconhecer que, como vice, Leão tem excedido em discrição, num reconhecimento de que sabe qual é o seu lugar e não tem interesse em produzir estresse na sua relação com o chefe do Executivo estadual por este motivo. O mesmo não se pode dizer de alguns de seus auxiliares e mesmo de alguns parlamentares que o rodeiam, lista na qual não está incluído o filho e deputado federal Cacá. À exceção do jovem parlamentar, todos andam manifestamente doidos para ver o vice com o leme do governo estadual nas mãos.

Ainda que possa não ter sido exatamente este o propósito de Rui com a promessa tão cedo de ficar até o fim do governo, sua resposta também serve para deixar mais tranquilos os apoiadores de partidos que não integram a chamada elite do grupo político que ele lidera, onde figuram claramente o PT, sua sigla, o PP do vice e o PSD do senador Otto Alencar. No time de que os três não fazem parte, onde estão naturalmente a maioria das siglas da base, há forte argumento em defesa de que o governador cumpra seu mandato até o final, se não quiser promover uma desorganização geral no grupo com fortes consequências eleitorais sobre todos.

Estas legendas alegam que, em nenhum momento durante a última campanha, Rui as avisou de que poderia deixar o governo antes do tempo para se candidatar ao Senado, em favor de um vice que assumirá com direito de concorrer à reeleição. Acrescentam que, como não houve qualquer negociação neste sentido, não podem ser simplesmente jogadas nos braços do eventual novo inquilino do Palácio de Ondina e muito menos apoiá-lo à próxima sucessão estadual. O argumento é facilmente rebatível, já que há tempo suficiente até lá para negociações neste sentido e até em outros. Sabedor do potencial desestabilizador do tema, Rui, no entanto, parece determinado a suspender qualquer especulação nesta linha.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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