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Nizan Guanaes e Donata Meirelles 11 de fevereiro de 2019 | 07:46

A sanha contra Donata Meirelles e Nizan Guanaes, por Raul Monteiro*

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A surpreendente polêmica gerada pela festa de aniversário da diretora da Vogue Donata Meirelles, na última sexta-feira, no Palácio da Aclamação, dá uma bela dimensão da pobreza da Bahia. Tanto econômica, um problema que os últimos governos locais não souberam ou sequer se propuseram a enfrentar, quanto de espírito, o que, a bem da verdade, não é propriamente uma novidade. A explosão de comentários sobre o evento registrada nas redes sociais, predominantemente críticos aos anfitriões e a seus convidados, passou a impressão de que o mundo acabava ou começava ali, na comemoração dos 50 anos da socialite.

Nenhuma nova tragédia, nada havia de mais importante acontecendo no Brasil, em outros Estados ou mesmo neste fim de mundo, condição a que, infelizmente, a Bahia foi relegada e episódios como este, lamentavelmente, só reforçam. Uma dezena ou mesmo uma meia-dúzia de eventos, a depender do período, com o mesmo porte deste promovido em Salvador, acontecem todos os finais de semana em São Paulo, onde os anfitriões moram boa parte do ano, Paris, Londres ou Nova Iorque sem que o deliberado ou forçado vouyerismo cibernético exploda em acusações e manifestações tão grandes de rancor ou despeito.

Mas, na Bahia, para onde os donos da festa trouxeram em torno de 300 convidados de fora, que tiveram que se hospedar na hoje diminuta rede hoteleira soteropolitana, precarizada pela queda do fluxo turístico no balneário em decorrência dos mais variados fatores, inclusive da mais deslavada incompetência governamental, e contrataram gente, provavelmente muitos desempregados, para recebê-los e transformar a celebração num momento especial, os olhos que espreitavam por trás do buraco da fechadura das redes sociais, muitos indignados, vamos combinar, porque privados de participação no convescote, eram de ódio e pura reprovação.

Um repúdio que condena a participação de Rui Costa (PT) numa comemoração de elite, a qual, queira ou não queira, ele integra desde que ascendeu à condição de político com mandato, mas não se manifesta, por exemplo, contra a inércia que permitiu a Salvador chegar ao seu terceiro ano sem um Centro de Convenções e as terríveis consequências desta e de outras falhas ou equívocos administrativos e políticos para o estímulo ao turismo e a geração de empregos numa cidade profundamente carente e desigual que, por falta de vocação melhor, sempre se escudou na atividade para sustentar inúmeros de seus moradores.

Donata e seu marido, o publicitário baiano Nizan Guanaes, podiam ter alugado um castelo nos arredores de Paris ou uma mansão numa colina de Los Angeles para comemorar o aniversário dela. Por razões que alegaram serem afetivas, preferiram, no entanto, o destino em que tudo aconteceu, inclusive, a onda reversa com que foram brindados. Erraram na temática folclórica, anacrônica, imprópria, que permitiu a muitos acusarem-nos, maldosamente, de trajarem mulheres negras como escravas em flagrante de racismo, por cuja escolha a aniversariante chegou a pedir perdão. A sanha tamanha de que têm sido alvo soa, no entanto, além de exagerada, excessivamente destrutiva e provinciana.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado hoje na Tribuna.

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