Foto: Divulgação/Arquivo
Governador Rui Costa 03 de janeiro de 2019 | 07:54

Uma descortesia com a própria equipe, por Raul Monteiro*

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Rui Costa (PT) promoveu, na última terça-feira, dia de sua posse para o segundo mandato no governo baiano, um inesperado arranhão em sua imagem de liderança administrativa estadual, até aqui cultuada por aliados e admitida, ainda que a contragosto, por muitos adversários. Ao ser questionado por jornalistas sobre as mudanças no secretariado, que tarda em anunciar, disse que poderia apenas adiantar que pelo menos três nomes do atual time estariam garantidos: o do jornalista André Curvello, responsável pela Comunicação, o do atual titular da Fazenda, Manoel Vitório, e o do chefe da Casa Civil, Bruno Dauster.

Da pequena turma, Curvello é a única unanimidade, elogiado principalmente no setor que comanda, o que não se pode dizer nem de Vitório e muito menos de Bruno. Mas não é preciso antecipar que eles foram transformados rapidamente no pivô de um problema muito maior, ou seja, no desconcerto que a referência exclusivamente aos três provocou em todo o resto do secretariado de Rui, que se sentiu profundamente desvalorizado pelo gestor e, consequentemente, submergiu numa profunda mágoa com ele. A avaliação geral é a de que o governador não deve ter ponderado antes de soltar a informação.

Afinal, como se analisa desde o momento em que proferiu a frase citando os preferidos, se não podia ter apresentado o nome de todo o novo secretariado ou pelo menos aqueles das pastas cujos titulares pretende mudar, era melhor que não dissesse nada, quedasse mudo ante o tema. Por este motivo, entre as justificativas para o posicionamento indesejado, tem prevalecido uma que nem de longe o favorece. Segundo a versão, o governador ainda não teria de fato decidido o que fazer e, por esta razão, diante da pressão dos jornalistas por pistas sobre o que planeja, acabou cometendo uma inconfidência indevida.

O problema é a extensão da repercussão da declaração. As consequências, naturalmente, não se restringem ao devastador efeito sobre a auto-estima dos auxiliares omitidos na citação, muitos a acompanhá-lo desde o início da sua primeira gestão. Num clima de expectativa de mudanças como o que se estabeleceu no governo estadual desde a reeleição, o governador acabou gerando uma verdadeira onda de instabilidade em vários setores, principalmente naqueles em que a liderança do secretário é condição sine qua non para que a pasta funcione a contento.

O que dizer, por exemplo, da sensível secretaria de Segurança Pública, onde o titular precisa manter sob comando constante várias tropas? Ou da pasta da Infraestrutura, onde projetos foram traçados para o segundo mandato na expectativa de cumprimento de algumas diretrizes estabelecidas pelo atual grupo que a chefia? Sem contar a da Saúde, a da Agricultura, a de Desenvolvimento Econômico, de Mulheres e de tantas outras. Sem entrar no mérito das competências individuais do time que o auxilia, algumas das quais verdadeiramente respeitadas, outras nem tanto, o que Rui fez com a maioria dos assessores é reprovado em qualquer manual básico de gestão no mundo.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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