Foto: Fábio Mota/Estadão/Arquivo
Bolsonaro e o primeiro-filho, Flávio 21 de janeiro de 2019 | 07:59

Um governo sob desconforto em 20 dias, por Raul Monteiro*

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Não há como negar que o caso Flávio Bolsonaro, senador eleito pelo PSL do Rio de Janeiro e filho do presidente da República Jair Bolsonaro, trouxe um desconforto considerável ao governo, menos de 20 dias de seu início. Desde as revelações sobre a movimentação de recursos atípica nas contas bancárias do ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, que pagou, inclusive, uma conta da primeira-dama, Michele, o fantasma da suspeição ronda o clã Bolsonaro, cujo sustento, como se sabe até aqui, vem basicamente da atividade do pai e dos filhos como agentes públicos.

É óbvio que, como disse ontem o vice-presidente da República, general da reserva Hamilton Mourão, em evidente socorro do presidente, é muito cedo para avaliações sobre o que efetivamente aconteceu, mas, se ficar comprovado que o deputado estadual carioca Flávio participava de rachadinhas semelhantes às denunciadas entre seus colegas, pelas quais parlamentares recebem parte dos salários de assessores nomeados com este fim, evidentemente que todo o discurso de moralidade feito até aqui pelos Bolsonaro começará a ruir.

E não adianta dizer que a Rede Globo está de má vontade com o novo presidente, que antes de assumir já prometia retaliar a emissora na distribuição das verbas publicitárias do governo e, em várias oportunidades, demonstrou que estava realmente disposto a levar adiante o intento de destronar a liderança da televisão. Enquanto houver informação disponível sobre a movimentação atípica de recursos nas contas de Flávio e de seu ex-assessor, sobre o qual já se descobriu que movimentou em dois anos o equivalente a R$ 7 milhões, incompatíveis naturalmente com o seu salário na Assembleia carioca, o noticiário vai prosseguir.

Caso as investigações continuem, como toda a sociedade espera, e levem à conclusão de que o primeiro-filho está envolvido em maracutaia – aliás, ele precisa explicar a que se refere o título de mais de R$ 1 milhão pago em sua conta na Caixa, além de outros depósitos suspeitos -, terá caído por terra o discurso que levou Jair Bolsonaro ao posto mais importante da República. Afinal, exatamente como o PT, há 16 anos atrás, ele foi eleito dizendo que era limpinho e diferente de todos os outros, normalmente mais sujos do que pau de galinheiro, como se sabe.

Ou seja, o discurso de anti-sistema feito pelo clã, o pai à frente, no qual quem conhece de política nunca acreditou, não vai poder mais ser feito. Enfim, parte do desconforto do novo presidente já deve ser sentido na reunião de cúpula em Davos de que ele participa agora. É evidente que terá dificuldades de falar com a imprensa porque o assunto, abafando qualquer outro, será a movimentação que leva a suspeitas sobre seu filho e seu ex-assessor no Brasil. O que é lamentável é que, se o script for seguido à risca, como se espera, talvez o país esteja longe de sair da crise.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado hoje na Tribuna.

Raul Monteiro*
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