Foto: Reprodução/Arquivo
Flávio e o ex-assessor, Fabrício, apontado como responsável pela contratação da mulher e da mãe de um miliciano em seu gabinete 23 de janeiro de 2019 | 09:59

Em discurso, Flávio Bolsonaro chamou de “perseguição” combate à ação de milícias

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O deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), senador eleito pelo Rio de Janeiro e filho do presidente da República, Jair Bolsonaro, fez um discurso no dia 7 de fevereiro de 2007 na Assembleia estadual defendendo a atuação das milícias, organizações para-policiais acusadas pelas autoridades de funcionarem como uma espécie de máfia, matando supostos criminosos e extorquindo comunidades, exatamente um mês antes de contratar como assessor em seu gabinete o subtenente Fabrício Queiroz, que, segundo o COAF, movimentou R$ 7 milhões em três anos em suas contas bancárias e está sob investigação.

Queiroz é apontado por Flávio como responsável pela contratação, também em seu gabinete, da mãe e da mulher de um ex-policial acusado de ser o chefe de uma milícia no Rio, foragido depois de ter sido acusado de envolvimento na morte da vereadoraa Marielle. O foragido foi homenageado pelo senador eleito em ato na Assembleia do Rio. No discurso, o filho do presidente da República diz que “a milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”.

Trechos da fala do senador eleito foram mostrados na edição de ontem de um dos programas da Globo News. Segundo ele, “em todas essas milícias sempre há um, dois, três policiais que são da comunidade e contam com a ajuda de outros colegas de farda para somar forças e tentar garantir o mínimo de segurança nos locais onde moram. Há uma série de benefícios nisso. Eu, por exemplo, Sr. Deputado André Corrêa, gostaria de pagar 20 reais, 30 reais, 40 reais para não ter meu carro furtado na porta de casa, para não correr o risco de ver o filho de um amigo ir para o tráfico, de ter um filho empurrado para as drogas”.

A existência do discurso de Flávio em favor das milícias surpreendeu o mundo político, já que a organização funciona como uma espécie de Estado paralelo, cuja defesa é incompatível com quem defende a legalidade, ainda mais com a atividade parlamentar. Em sua fala, o senador eleito considera que não há diferença entre a atividade do policial militar que faz a segurança de um deputado ou de um condomínio de luxo e o policial que está fazendo a segurança, “na maioria esmagadora das vezes”, no local onde mora e onde tem família. Ele também classifica de “perseguição” o combate à atividade de milicianos da parte de alguns políticos e entidades ligadas aos direitos humanos.

“Não acho justa essa perseguição – é neste ponto que eu quero chegar – principalmente por parte de políticos e entidades ligadas aos direitos humanos. Por um motivo muito simples, eles se sentem apavorados com as milícias porque, raríssimas exceções – ONGs de Direitos Humanos, políticos ligados a essa área – vivem da miséria, da desgraça e da violência de uma comunidade porque, caso contrário, eles ficarão sem trabalho, não terão nada a oferecer em troca. Imaginem se acabassem com o tráfico na Rocinha. O que o Viva Rio vai fazer lá dentro? Não vai ter mais função”, afirmou, na época, o parlamentar.

Em determinado trecho do discurso, Flávio chega praticamente a justificar a execução de “criminosos” por parte dos milicianos. “Podemos condenar tais policiais que estão trabalhando ali para tentar expurgar do seio de sua família criminosos que não têm recuperação mesmo? Qualquer jornal hoje estampa a foto de um grupo de traficantes segurando fuzis de última geração com carregadores onde cabem centenas de balas. Será que um vagabundo sendo preso poderá se recuperar? Será que ele quer ser recuperar? Será que é justo continuarmos mantendo esse tipo de gente na cadeia? Para quê? Temos de deixar de ser hipócritas! Não há recuperação mesmo”, declarou.

Leia abaixo a íntegra do discurso do deputado estadual Flávio Bolsonaro obtido pelo Política Livre:

“Sr. Presidente, venho falar sobre as milícias, assunto tão noticiado pela imprensa.

Como bem disse o Sr. Deputado Paulo Ramos, não se pode, simplesmente, estigmatizar as milícias, em especial os policiais envolvidos nesse novo tipo de policiamento, entre aspas.

Estendem uma exceção, um caso isolado em que há excesso por parte de alguns maus policiais que cometem atrocidades e covardias contra moradores de uma comunidade, à regra.

A milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos.

Em todas essas milícias sempre há um, dois, três policiais que são da comunidade e contam com a ajuda de outros colegas de farda para somar forças e tentar garantir o mínimo de segurança nos locais onde moram.

Há uma série de benefícios nisso. Eu, por exemplo, Sr. Deputado André Corrêa, gostaria de pagar 20 reais, 30 reais, 40 reais para não ter meu carro furtado na porta de casa, para não correr o risco de ver o filho de um amigo ir para o tráfico, de ter um filho empurrado para as drogas.

Pergunte a qualquer morador de uma dessas comunidades se ele quer outra coisa, se quer sair de lá, se não está feliz de poder conversar com seus vizinhos na calçada até tarde da noite!

É claro que sim, porque ele sabe que não corre mais o risco de morrer!

Penso que não há diferença entre o policial militar que vai fazer a segurança de um deputado ou de um condomínio de luxo e o policial que está fazendo a segurança, na maioria esmagadora das vezes, no local onde mora e onde tem família.

Não acho justa essa perseguição – é neste ponto que eu quero chegar – principalmente por parte de políticos e entidades ligadas aos direitos humanos.

Por um motivo muito simples, eles se sentem apavorados com as milícias porque, raríssimas exceções – ONGs de Direitos Humanos, políticos ligados a essa área – vivem da miséria, da desgraça e da violência de uma comunidade porque, caso contrário, eles ficarão sem trabalho, não terão nada a oferecer em troca.

Imaginem se acabassem com o tráfico na Rocinha. O que o Viva Rio vai fazer lá dentro? Não vai ter mais função.

Como irá justificar a quantidade de recursos financeiros públicos e privados que recebe para exercer esse trabalho social entre aspas naquele lugar?

Então, para essas ONGs, não interessa ter milícia. Se não houver violência, miséria, morte, bala perdida, estupro, eles não terão o que fazer lá.

E mais, esses políticos ligados aos direitos humanos estão preocupados com a sua própria carreira política, Sr. Deputado Dionísio Lins.

A partir do momento em que não estiverem numa comunidade, como vão lá pedir voto? Então, este é um ponto que também deve ser levado em consideração.

Lógico que não devemos generalizar, mas raríssimas exceções, esta é a regra.

Podemos condenar tais policiais que estão trabalhando ali para tentar expurgar do seio de sua família criminosos que não têm recuperação mesmo?

Qualquer jornal hoje estampa a foto de um grupo de traficantes segurando fuzis de última geração com carregadores onde cabem centenas de balas.

Será que um vagabundo sendo preso poderá se recuperar? Será que ele quer ser recuperar? Será que é justo continuarmos mantendo esse tipo de gente na cadeia? Para quê?

Temos de deixar de ser hipócritas! Não há recuperação mesmo.

Precisamos rediscutir uma série de coisas: o problema social, o problema constitucional, penal, processual penal.

É muita coisa que precisa ser colocada numa máquina de lavar para poder sair toda essa sujeira, Sr. Presidente, Deputado Pedro Fernandes Neto.

Mas uma coisa deve ser levada em consideração: não podemos simplesmente generalizar, dizendo que esses policiais, que estão tomando conta de algumas comunidades, estão vindo para o lado do mal. Não estão.

A diferença é que eles têm sua origem nesses locais e estão preocupados sim, em permanecer ali e combater como eu falei, o que há de pior na criminalidade, seja com a ajuda do batalhão da região, seja com a ajuda de outros policiais colegas de farda. Não importa.

O que importa é que, de repente, pela primeira vez na vida, muitas dessas pessoas carentes estão tendo o mínimo de segurança, o mínimo de tranqüilidade, o mínimo de dignidade para, pelo menos, tentarem dar o mínimo de educação e saúde para suas famílias.

Muito obrigado, Sr. Presidente.”

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