Foto: Ricardo Moraes/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro 15 de janeiro de 2019 | 20:24

Davos testa discurso ‘anti-globalista’ de Bolsonaro

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Meca da globalização, Davos testa o tom anti-globalista atribuído ao governo de Jair Bolsonaro. A partir da semana que vem, o Fórum Econômico Mundial recebe a elite das finanças do planeta, 70 governos, líderes de diversos setores e será o palco da estreia internacional do novo presidente. Davos também será a estreia internacional de Bolsonaro. A delegação brasileira viaja dia 21 e ainda é composta pelo filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, pelo chanceler Ernesto Araújo, pelo ministro da Fazenda, Paulo Guedes, e pelo ministro da Justiça, Sergio Moro. “Ele (Bolsonaro) será muito bem-vindo para comunidade global”, disse Klaus Schwab, fundador do Fórum. “Claro, a comunidade global está muito curiosa para ouvi-lo”, afirmou. Questionado se ele não teria valores contrários ao de Davos, o executivo minimizou. “Veremos. O que significa ser anti-global? Ele também tem de trabalhar num cenário global. Caso contrário, não viria para Davos”, apontou. Desde que o governo assumiu, medidas foram adotadas no Brasil que destoaram da tradição diplomática do País. O Brasil deixou o acordo de migração da ONU, questiona a existência de mudanças climáticas e passou a criar uma secretaria de Soberania no Itamaraty, enquanto o chanceler Ernesto Araújo prolifera textos em que aponta para um alinhamento com os EUA e tece críticas ao globalismo. O ministro, em seu discurso de posse, definiu o termo como “o ódio, através das suas várias ramificações ideológicas e seus instrumentos contrários à nação, contrários à natureza humana, e contrários ao próprio nascimento humano”. Schwab, em seu discurso nesta terça-feira para apresentar a edição de 2019 de Davos, também criticou o globalismo. Mas o definiu de uma forma diferente daquela feita pelo governo Bolsonaro. “Temos que diferenciar entre globalização e globalismo”, disse. “A globalização vai continuar, já o globalismo é apenas uma ideologia que tudo o que fazemos deve se submeter às leis do mercado. Nunca acreditamos nisso e eu, no passado, já alertei que isso não era sustentável”, declarou. No fundo, o que Schwab deseja que Davos se transforme é justamente na antítese defendida por alguns setores do governo brasileiro: cooperativo, mutilateral, com atores privados e sociedade civil e plural. O Fórum, porém, sabe que esse modelo está sob ataque e que eleições recentes tem colocado no poder líderes que questionam essa onda. “Temos de definir uma nova globalização, mais inclusiva”, defendeu Schwab. “Ela gera perdedores e ganhadores. Tivemos, de uma forma geral, mais ganhadores que perdedores. Mas agora temos de ir atrás daqueles que perderam. Ela precisa ser mais sustentável, num mundo de maior colaboração e mais inclusivo”, insistiu. Schwab também apontou para uma direção diferente do tom da nova diplomacia brasileira. “Estamos indo de um mundo unipolar para multipolar”, insistiu. “Precisamos entender o outro num mundo em que não compartilhamos valores, mas compartilhamos interesses”, disse. Com 3,2 mil participantes e 70 chefes de estado, Davos tem um objetivo ambicioso: moldar a agenda futura da globalização. “Esse é o evento mais completo do mundo”, defendeu o executivo, fazendo questão de reforçar a ideia de interdependência e multilateralismo. Entre os temas do ano em Davos estará o combate às mudanças climáticas, a busca de soluções comuns, imigração e mesmo na criação de uma solução para o “déficit de líderes” no mundo. Leia mais no Estadão.

Estadão Conteúdo
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