Foto: Política Livre/Arquivo
Governador Rui Costa está prestes a enfrentar sua primeira prova de fogo na Assembleia 03 de dezembro de 2018 | 08:09

Pacotaço e sucessão na Assembleia, novos desafios de Rui, por Raul Monteiro*

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O governador Rui Costa (PT) está prestes a viver sua primeira prova de fogo desde que chegou ao governo há praticamente quatro anos embalado por uma das ondas Lula na Bahia. Não há no ar sinais de que o pacotaço que enviou à Assembleia Legislativa e de cuja aprovação precisa com certa urgência para poder não perder o controle fiscal do governo será apreciado em silêncio pela oposição nem pelos órgãos – sindicatos e entidades de classe – que representam os servidores, sem dúvida, uma das partes mais atingidas pelos cortes com que pretende enfrentar a situação.

O fato de ter omitido a gravidade do estado das contas estaduais, bem como seu plano de ajustar a máquina em nível tão profundo, na campanha que consagrou sua reeleição, com 75% dos votos válidos, só piora o quadro. Não deve ser por acaso que um vídeo em que o deputado federal Arthur Maia (DEM) aparece lhe acusando de ter cometido um estelionato eleitoral – termo conhecido no país para casos não infrequentes em que politicos pintam um cenário bonito de seus governos quando pretendem se reeleger – passou a semana fazendo sucesso nas redes sociais.

Neste cenário movediço, em que enfrentará resistências, a despeito da importância das medidas que pretende tomar para não inviabilizar seu governo e a si próprio como liderança administrativa que vinha provando ser até agora, será forçado a fazer o que seus correligionários dizem que não gosta: política, que pode ser entendida também como a arte da barganha entre os representantes da sociedade e não de seus próprios interesses. A mesma que não precisou fazer até agora, enquanto foi favorecido por um quadro nacional que nunca lhe ameaçou.

Não é improvável, portanto, que, no calor das discussões que deverão emergir da Assembleia que passará agora a se debruçar sobre suas propostas de correção do rumo administrativo do governo, aflore de novo a constatação de que, além de lhe faltar aptidão para a política, o governador carece, principalmente, de uma articulação que possa suprir sua deficiência. Um dos sinais a apontar nesta direção foi o caminho que Rui resolveu perseguir exatamente agora neste momento delicado com relação à sucessão do presidente da Casa, o deputado estadual Angelo Coronel (PSD).

Devem ser hoje poucos os deputados da base do governo que gostaram, por exemplo, de ver o governador externando para a gigantesca platéia formada por seu Conselho Político a exigência de que os aliados resolvessem primeiro entre eles a disputa pela presidência do Legislativo para só então buscar o apoio da oposição. Avaliam que, se tivesse de fato uma articulação política eficiente, teria sido aconselhado a chamar os principais postulantes ao posto para pactuar com eles a exigência sem expor a base. Como chamou para si o processo, hoje tem os dois desafios pela frente.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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