Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Presidente da delegação do Parlamento Europeu para as relações com o Mercosul, o deputado português Francisco Assis 04 de novembro de 2018 | 08:30

União Europeia quer fechar acordo com Mercosul antes da posse de Bolsonaro

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O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia – em negociação há quase 20 anos, mas já na reta final – ganhou um novo impulso após as declarações da equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro de que o bloco sul-americano não será prioridade no novo governo. A intenção, segundo o presidente da delegação do Parlamento Europeu para as relações com o Mercosul, o deputado português Francisco Assis, é tentar fechar algum tipo de entendimento comercial ainda durante o governo de Michel Temer. “Estamos preocupados”, disse. “Há uma enorme incógnita sobre qual será o futuro do Mercosul e, portanto, sobre como ocorrerá essa relação de negociação com a União Europeia.” Segundo ele, o Mercosul entregou uma proposta aos europeus no dia 24 de outubro. “Haverá uma tentativa por parte da UE de fazer uma contraproposta”, disse. A negociação com o Mercosul entrou na pauta da reunião da UE da próxima quarta-feira, com a comissária de comércio exterior do bloco, a sueca Cecilia Malmström. O acordo, se confirmado, será o mais importante já assinado pelo bloco europeu. Para levá-lo adiante, no entanto, é preciso vencer resistências dentro da própria União Europeia, já que grupos protecionistas fazem pressão para adiar o acordo. Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro defendeu acordos bilaterais com países desenvolvidos e criticou a política externa dos governos do PT, que deram prioridade a acordos com países africanos, sul-americanos e asiáticos. Na primeira entrevista após o resultado do segundo turno, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a criação do Mercosul foi ideológica e que o bloco não seria prioridade. Na visão de especialistas em relações internacionais, a ênfase nos acordos bilaterais pode significar uma mudança na tradição diplomática brasileira do multilateralismo. “No fundo, isso faz sentido. Um dos motivos que atrapalham o desfecho nas negociações por livre comércio entre Mercosul e União Europeia é que, quando o Brasil avança, a Argentina recua”, diz Joaquim Racy, professor de economia da PUC-SP. Na Europa, existem duas preocupações com o novo posicionamento, que inclui uma aproximação com os Estados Unidos: a substituição de produtos europeus por bens americanos, que entrariam no Brasil em melhores condições; e o fim de um equilíbrio geopolítico na América Latina entre os interesses americanos e europeus. A China já pressiona Bolsonaro pela manutenção do atual acordo comercial e alertou, em editorial, que a economia brasileira sofrerá com eventual rompimento com Pequim. A última rodada de negociações entre Mercosul e UE, em setembro, foi interrompida sem que os dois lados chegassem a uma conclusão sobre tarifas para produtos agrícolas e industriais, como a carne bovina sul-americana e os laticínios europeus. Procurado, o Itamaraty não se manifestou.

Estadão
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