Foto: Divulgação/Arquivo
Otto e Leão, tendo ao centro o governador Rui Costa, em ato de campanha na última eleição 22 de novembro de 2018 | 08:32

Uma ponte entre Leão e Otto?, por Raul Monteiro*

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Houve de tudo na última reunião do Conselho Político em que o governador Rui Costa (PT), solenemente, anunciou que tomaria medidas drásticas para evitar o comprometimento fiscal do governo em seu segundo mandato. Os presidentes dos partidos que compõem o colegiado, alguns deles políticos com mandatos, não esconderam o espanto quando ouviram da boca do gestor que algumas providências seriam muito duras, como a que eleva a alíquota de contribuição dos servidores à Previdência estadual de 12% para 14%, ou mesmo impensáveis para um governo esquerdista, a exemplo da privatização de empresas do Estado.

Mas o que mais chamou a atenção dos ilustres membros do Conselho Político no encontro da última segunda-feira foi o clima beligerante entre o senador Otto Alencar (PSD) e o vice-governador João Leão (PP). Líderes dos dois mais importantes partidos da base governista, depois do PT do próprio governador, eles não esconderam de ninguém que são idos os tempos em que se entendiam muito bem e podiam até ser considerados, nas rodas governistas, best friends. Num dos momentos mais quentes da refrega, Otto pareceu ser o mais enquentado.

– Voce foi muito descortez comigo. Você colocou o dedo na minha cara e disse que teria candidato tanto aqui quanto em Brasília, aos gritos. Só não reagi por educação e consideração a você, teria dito o senador, dirigindo-se a Leão, na frente de todos. O vice-governador também bradaria. Tanto que, depois da reunião, Otto ainda o ironizaria para o governador. – Estou até com medo da agressividade dele (Leão). Acho melhor o senhor me proteger, governador, teria acrescentado o senador, que, além de mais jovem e forte do que o presidente do PP, conhece a fundo as artes da capoeira de Angola.

Aparentemente, o pano de fundo para o enfrentamento seria a disputa pela presidência da Assembleia Legislativa. Leão entende que agora é a vez de o partido de Otto apoiar o candidato do PP, o deputado estadual Nelson Leal. Seria o troco pelo apoio que os progressistas deram à candidatura do atual presidente Angelo Coronel, do PSD, dois anos atrás. Mas tanto Otto quanto Coronel alegam que o compromisso que assumiram não foi com a legenda, mas com o deputado estadual Luiz Augusto, progressista como Leal, que, no entanto, não conseguiu se reeleger.

Isso os liberaria para tentar emplacar o deputado do PSD, Adolfo Menezes. Como em todo Parlamento as paredes têm ouvidos e versões sobre acontecimentos fluem com uma naturalidade assombrosa, nos últimos dias, entretanto, surgiu uma nova especulação para o que pode estar opondo verdadeiramente Otto a Leão. Ela dá conta de que os dois disputariam o controle sobre a construção da quimérica ponte Salvador-Itaparica, projeto a que, como secretário de Planejamento, o presidente do PP passou a se dedicar 24hs, por mais que muitos sobre ele se refiram como a um factóide, lançado há 12 anos atrás, quando Jaques Wagner (PT) assumiu o governo do Estado pela primeira vez. Nessa Bahia em que pouco se faz e muito se fala, não custa nada aguardar para conferir.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado hoje na Tribuna.

Raul Monteiro*
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