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O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes 06 de novembro de 2018 | 20:57

‘Prensa’ citada por Guedes sobre Previdência causa mal-estar no Congresso

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O apelo feito pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, para que deputados e senadores votem a reforma da Previdência ainda neste ano foi visto no Congresso como uma tentativa de “enquadramento” e provocou mal-estar nas duas Casas. Ao dizer que os parlamentares precisam de uma “prensa” para votar logo, Guedes contrariou políticos de vários matizes ideológicos, da direita à esquerda, passando pelo centro. “O Congresso é soberano, independente, e não tem prensa por aqui”, reagiu o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). “A primeira coisa que o governo de Jair Bolsonaro vai precisar aprender é ter mais cuidado com as palavras”, emendou ele. Tasso disse que talvez Guedes tenha usado a expressão por “falta de experiência” ou até mesmo “ingenuidade”. Ressalvou, no entanto, que “esta não é maneira correta” para o futuro ministro se comunicar com o Congresso. Nome citado pela oposição para disputar a presidência do Senado, em fevereiro de 2019, Tasso afirmou que, na sua opinião, o PSDB deve ficar “independente” em relação ao governo Bolsonaro. O presidente do PSDB, Geraldo Alckmin, desembarcou nesta terça-feira em Brasília para conversas reservadas sobre os rumos do partido. A Executiva Nacional do PSDB vai se reunir no dia 22 para decidir se os tucanos apoiarão ou não Bolsonaro. A sigla está rachada. Na avaliação de Tasso, o PSDB não deve cometer o mesmo “erro” de 2016, quando entrou no governo de Michel Temer, no rastro do impeachment da então presidente Dilma Rousseff. “Eu acho que o PSDB não deve ter ninguém no governo. Deve ser oposição nos aspectos que considerar equivocados, mas aprovar pontos que tem maior concordância, como a linha econômica”, argumentou Tasso. Para ele, a reforma da Previdência, por exemplo, “é urgente”, mas não se pode fazer as mudanças no INSS “de qualquer jeito”. O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), não quis nem comentar a expressão “prensa” usada por Guedes para se referir à articulação que o Palácio do Planalto deve fazer sobre o Congresso. Questionado sobre a declaração, Eunício – que é contra a votação agora – abriu um sorriso. “O projeto de reforma da Previdência tem que ser encaminhado pelo presidente eleito, traduzindo o sentimento que vem das ruas”, desconversou o senador. No comando da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) tenta se aproximar de Bolsonaro para obter apoio à sua reeleição e disse que nutre “otimismo” em relação aos próximos nós a serem desatados. Para Maia, nem mesmo a intervenção no Rio – que teria de ser suspensa para que o projeto sobre a reforma da Previdência entrasse na pauta, como manda a Constituição – seria problema, se houvesse vontade política. “O importante é ver se há ou não condições de votar”, insistiu. “Se você olhar o que se tentou com esse Parlamento e não se avançou, a probabilidade maior é essa (de não aprovar), mas eu tento ser otimista”. Derrotado na disputa pelo governo do Distrito Federal, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) disse que, se a reforma da Previdência tivesse como avançar algumas casas no Congresso, já teria sido aprovada há tempos. “O ministro Paulo Guedes tem de entender que aqui, para votar, tem de ter voto. E hoje isso não existe. Então, quem tem de ficar com esse ônus é o novo Congresso”, observou. Para que a proposta de emenda à Constituição receba sinal verde do Congresso são necessários 308 votos na Câmara e 49 no Senado, em duas votações. “O novo Congresso, com uma nova configuração, é que tem de encarar esse problema”, insistiu Fraga. Até mesmo o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente eleito, acha muito difícil que a reforma da Previdência passe pelas duas Casas ainda neste ano. Embora argumentando que a iniciativa ajudaria a superar as dificuldades do início de governo – chamadas de “horizonte de nuvens” por Guedes -, Eduardo ponderou os riscos para o presidente eleito. “Se perdêssemos, (o tema) seria tratado como a primeira derrota de Jair Bolsonaro, antes mesmo de ele ser empossado”, previu o deputado. Leia mais no Estadão.

Estadão Conteúdo
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