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Haddad e Bolsonaro são cotados para o enfrentamento do segundo turno 01 de outubro de 2018 | 08:50

Um país radicalmente dividido, por Raul Monteiro*

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Se há dúvida em cidadãos democratas genuínos em relação a que decisão tomar num eventual e provável segundo turno entre os candidatos Jair Bolsonaro, do PSL, e Fernando Haddad, do PT, o mesmo questionamento permeia a cabeça de políticos que defendem acima de tudo a democracia e não se identificam com o que pode significar um ou outro presidenciável. Afinal, embora seja um intelectual de excelente reputação, um político que se possa respeitar, Haddad não fez até agora nenhum aceno no sentido de que, a despeito do que seu partido e Lula pensam e dizem, não compactua do mesmo atraso e, elegendo-se, poderá exercer sua autonomia.

Não é possível, por exemplo, que compartilhe intimamente do mesmo diagnóstico da crise que PT e Lula fazem, desconsidere a importância de critérios como o da responsabilidade fiscal e queira promover a volta do crescimento no país por meio do incentivo ao crédito e ao consumo, fórmula aplicada à exaustão pelo ex-presidente que pode ser apontada, entre outros graves equívocos governamentais, pela horrorosa crise em que o país se encontra, a qual o lulo-petismo insiste em debitar não nos próprios erros e na gestão incompetente de sua afilhada Dilma Rousseff, mas exclusivamente na do atual presidente Michel Temer, o ex-aliado emedebista.

Quanto a Bolsonaro, um fenômeno em boa medida produzido pelo radicalismo do próprio PT em seus flertes com posturas autocráticas, nada assegura que tem condições políticas e emocionais para efetivamente governar o país dentro das regras democráticas e que, na hipótese de não consegui-lo, não optará por levar o país a uma ruptura institucional, especulação que se fortalece não por causa de qualquer paranóia esquerdóide, mas por sua trajetória, história e despreparo, bem como pelos vários posicionamentos que vira e mexe adota, a exemplo do permanente questionamento a um virtual resultado eleitoral que não o favoreça.

Como não faz sentido liberalismo sem liberdade, sendo a supressão da segunda um arremedo do primeiro, há ainda o risco concreto de que os sinais que oferece por meio do seu guro econômico, Paulo Guedes, não passem de um engodo, destinado a atrair os que se aterrorizam com a eventual volta do PT, principalmente com o risco da repetição de um receituário que já provou sua inadequação e consequências desastrosas para o país. Exatamente disso, de uma empulhação cujo objetivo é convencer a todos de que é o oposto do petismo, quando muitos dos seus votos como deputado na Câmara apontam mais na direção do que pensa o partido de Haddad do que o contrário.

Deve ter sido por isso que o prefeito ACM Neto (DEM) divulgou ontem nas redes sociais um vídeo mais enigmático do que esclarecedor quanto ao que pode fazer na eventualidade de se defrontar com o embate entre o PT e Bolsonaro no segundo turno. Sem citar o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, do qual é coordenador de campanha, preferiu chamar o eleitorado à razão e apelar por um voto refletido e ponderado, lembrando que, qualquer que seja o resultado da eleição do próximo domingo, será necessário evitar um país dividido e desunido, única forma, na sua opinião e da de muitos preocupados com o futuro, de superar a gravíssima crise atual.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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