Foto: Divulgação/Arquivo
José Ronaldo foi o candidato do DEM ao governo do Estado 08 de outubro de 2018 | 09:17

Sequência de equívocos e derrota, por Raul Monteiro*

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Da escolha de seu nome por ACM Neto (DEM) para concorrer ao governo à estratégia utilizada na campanha, a candidatura de José Ronaldo (DEM) ao governo foi uma sequência de equívocos, cujo resultado eleitoral, de menos de 23% dos votos válidos, portanto abaixo da média da oposição nos últimos anos, não deixa mentir. Pinçado de afogadilho para suprir a lacuna do líder oposicionista que optara, por decisão mais pessoal que política, por não disputar o governo, Ronaldo nunca inspirou a devida confiança em sua eventual vitória, necessária a manter mobilizadas as forças que já se organizavam na expectativa da candidatura do prefeito de Salvador.

Sob tal clima, não seria de estranhar que sua primeira grande dificuldade, a de montar a chapa com que finalmente disputaria a sucessão, não fosse superada a contento. O medo de não conseguir fazer a escolha dos companheiros de jornada deve ter levado à sua dócil submissão à pressão do nanico PSC para fazer o deputado federal Irmão Lázaro candidato a senador e não à sua vice, onde era notório que o parlamentar poderia ajudá-lo muito mais do que, ao final, o auxiliou. O fato de Lázaro ter tido mais votos para senador – quase 1.820.000 – do que ele, que cravou menos de 1.500.000 para o governo, só confirma as predições mais sensatas feitas à época, que o candidato solenemente ignorou.

A segunda escorregada ocorreria mais adiante, na reta final da campanha e, coincidentemente, no auge do provável desespero do candidato ante o risco de uma derrota humilhante. Nas considerações finais de um debate na TV Bahia, tradicionalmente o de maior audiência no Estado, o candidato a governador resolveu, sem combinar o jogo com o padrinho ACM Neto, pedir votos para o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), quando seu compromisso e o do prefeito, mais ainda, já que era também coordenador nacional da campanha do tucano Geraldo Alckmin, fora o de apoiar a candidatura do PSDB à sucessão presidencial.

A irritação com que Neto reagiu ao fato, desautorizando-o imediatamente, acabou levando parte do eleitorado a concluir que Ronaldo traíra os dois, o padrinho político e o presidenciável. Antes, o democrata já ensaiara uma ponte com Bolsonaro, ao perguntar, num palanque, se a platéia gostaria de votar no capitão reformado e ouvir como resposta uma explosão de apoio, o que levou à sua primeira repreensão por parte do prefeito. O engano de Ronaldo, no entanto, foi o de achar que as sinalizações de simpatia por Bolsonaro seriam suficientes para catapultá-lo, aos olhos do eleitorado, aos píncaros da glória bolsonarista.

Antes, o que pareceu fora que agia exclusivamente por oportunismo, o que não pode ser considerado uma verdade plena, já que foram prepostos seus que organizaram o único evento de que Bolsonaro participou em Salvador, em Stella Maris, muito antes de levar a facada que o tiraria temporariamente de combate, de olho na perspectiva de os dois virem a se entender no caso de Alckmin sucumbir, como acabou acontecendo. Justificar ou suavizar sua adesão a Bolsonaro, de forma a permitir que pongasse em sua popularidade, como fez, por exemplo, o hoje líder da disputa no Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), deveria ter sido um papel que sua comunicação política não conseguiu cumprir.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado hoje na Tribuna.

Raul Monteiro*
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