Nova marca da campanha de Haddad para o segundo turno, em que o verde amarelo substitui o vermelho 11 de outubro de 2018 | 07:29

E o PT descobre a importância de ser verde-amarelo, por Raul Monteiro*

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Está sendo hercúleo o esforço do PT para tentar ampliar o eleitorado necessário à sua vitória contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) nesta segunda fase do processo eleitoral. Mesmo com os delírios autoritários nos governos Lula e Dilma, exemplificados pelo apoio a ditaduras, práticas corruptas e a permissividade com a corrupção, o cinismo, o ataque às instituições, a incitação ao ódio por meio do “nós contra eles”, a dificuldade em admitir os próprios erros e a tentativa de destruir adversários e críticos, não se pode imputar à legenda o desrespeito aos valores democráticos típico da ultra-direita.

Não obstante a vantagem comparativa neste quesito em relação a Bolsonaro, agora os petistas pagam o preço pela arrogância de achar que o contingente lulista, formado principalmente pelos reconhecidos beneficiários de seus programas sociais, seria suficiente para o partido vencer, inclusive no primeiro turno. Não são, como mostraram as urnas. Primeiro, porque Fernando Haddad não é Lula, como a propaganda, aliás, muito bem sucedida, tentou fazer crer, embora ele também não possa ser considerado um poste sem luz própria nem emprestada como a ex-presidente Dilma Rousseff, de triste memória.

Depois, porque o sentimento anti-petista, transformado na força motriz desta eleição, e muito competentemente manejado pelo capitão reformado, atingiu níveis inimagináveis mesmo para os adversários mais empedernidos do ex-presidente, ampliando imensamente a dificuldade de Haddad para agregar mais energia e votos ao seu projeto eleitoral e levando de roldão muitos daqueles que ocupam o campo do lulismo, como os mais pobres e os nordestinos, segmentos em que a fidelidade ao ex-presidente começa a se mostrar mais flexível do que ele, com certeza, gostaria.

Baseado na premissa equivocada da auto-suficiência eleitoral lastreada no lulismo, Haddad esqueceu-se do resto do país, atracou-se sem comedimento com Lula na prisão de Curitiba e rejeitou categoricamente qualquer aceno ao centro durante o primeiro turno. Sequer admitiu a importância do reequilíbrio fiscal, a necessidade de uma reforma na Previdência nem a revisão da carga tributária. Pelo contrário, repetiu a lenga-lenga de que o país poderia voltar a crescer com base no binômio crédito e consumo, desconsiderando o nível de endividamento a que a Nação foi levada pelo equivocado modelo econômico aplicado pelo petismo.

Perdeu duas oportunidades – a primeira em uma entrevista ao Jornal Nacional e a outra durante o debate na Rede Globo, ao ser inquirido pela candidata Marina Silva, da Rede – de fazer uma autocrítica. Autoanulando-se em prol de uma estratégia eleitoral traçada por um indivíduo preso, naturalmente ressentido e com dificuldades de perceber as mudanças que se processam no país, das quais é, ainda que a contra-gosto, um dos motores, parece ter chegado ao limite. Será que ainda conseguirá convencer o país de que pode realmente governar para todos ou acabará sendo profundamente responsabilizado, junto com o PT, por entregar a Nação ao adversário beligerante?

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado originalmente na Tribuna.

Raul Monteiro*
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