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Ministra Carmem Lúcia foi contra o aumento se auto-atribuído pelos ministros 13 de agosto de 2018 | 08:23

E os deputados, farão o que com o aumento do STF?, por Raul Monteiro

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A decisão da maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de, numa reunião administrativa, aprovar um aumento de 16% para os próprios salários corresponde a um soco no estômago daqueles que, no Brasil, acreditam que o Judiciário pode assumir o papel de representante da sociedade em lugar da classe política. A decisão subsequente dos procuradores de, aproveitando a iniciativa da mais alta Corte brasileira, adotar o mesmo procedimento visando os seus próprios interesses apenas confirma a tese de que tanto uma classe quanto a outra representa melhor a si própria do que a população.

A auto-elevação do subsídio da chamada elite da elite do funcionalismo, num momento em que o país vive uma crise econômica pesada, com mais 13 milhões de desempregados, sem perspectivas de melhora no médio prazo e no qual mais de um terço da população recebe, quando muito, um salário mínimo, mais do que uma desfaçatez e um desrespeito, é uma verdadeira agressão à dignidade da maioria. Ainda mais porque, como se sabe, a majoração implicará num efeito cascata, empurrando aumentos desenfreados no âmbito do funcionalismo, capaz de levar efetivamente o Brasil à bancarrota, a depender do presidente eleito em outubro próximo.

Nada disso, no entanto, foi capaz de levar os senhores ministros do Supremo Tribunal Federal, donos do emprego dos sonhos de qualquer brasileiro, com todos os seus penduricalhos e mordomias, além da garantia da estabilidade até a morte, ou seja, condições que elevam em muito os subsídios que eles recebem, a refletir e decidir respeitar a triste situação da maioria do povo brasileiro. Se era preciso uma prova de que, na condução da Lava Jato, eles não fazem mais do que cumprir o seu papel, sem que ele se confunda com o respeito à fragilidade da sociedade brasileira, ela está aí escancarada.

Na contramão de todos eles, no entanto, pode ainda se colocar a classe política, essa sim que deveria representar os interesses legítimos da sociedade e rebelar-se contra a medida no Congresso enquanto é tempo, cumprindo o seu papel e colocando-se contra o desatino de uma elite que, com efeito, não tem a menor preocupação ou, pior, consideração com aqueles que carregam o país nas costas, são obrigados a pagar impostos extorsivos para sustentar sua boa vida e hoje enfrentam condições de vida muito piores do que no passado.

A expectativa de reação, na verdade, é apenas uma expectativa, porque há muito a classe política também sucumbiu ao mesmo estilo de corporativismo que a faz desconsiderar completamente o povo a que deveria representar, buscando, quando as oportunidades se apresentam, defender e lutar por seus próprios interesses em detrimento dos da maioria. Num momento em que o país se prepara para renovar sua classe política, em eleições em outubro, era bom cada eleitor procurar saber antes como seus candidatos vão se posicionar ante o afrontoso aumento antes de votar.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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