Foto: Werther Santana/Agência Estado/Arquivo
Juiz Sérgio Moro 27 de agosto de 2018 | 08:42

A aula de Moro contra a corrupção, por Raul Monteiro*

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Quem assiste pela primeira vez a uma palestra do juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato, sai com pelo menos duas certezas: a primeira é a de que ele e a maior operação contra a corrupção já deflagrada no Brasil são praticamente do mesmo material, ou seja, trocando em miúdos, sem Moro, ela não existiria. Foram o seu esforço, determinação e competência, mas, sobretudo, a sua coragem que viabilizaram a investigação cujos primeiros resultados todo o país tem conhecimento. A segunda é que parte da força com que fala e atua vem, principalmente, do contato direto com o que apura, por meio das informações prestadas pelas testemunhas e as provas.

De fato, imaginar que a Lava Jato poderia ter começado sem que tivesse à frente a sua liderança, sujeita a erros e acertos como a de qualquer mortal, é um exercício difícil até para mentes muito criativas, mais acostumadas aos códigos nacionais pelos quais vence, na esfera do poder, normalmente quem nada a favor da maré, o que é o mesmo que saber compor e conciliar, ainda que no terreno da gestão pública, em que deveria predominar a defesa do interesse coletivo. Na palestra que deu no Simpósio Nacional contra a Corrupção, promovido em Salvador na semana passada, pela Associação dos Delegados Federais da Bahia, Moro pode mostrar a si e a Lava Jato.

Começou dizendo, por exemplo, que uma condição fundamental a diferia daquela do Banestado, que apurou, também sob a sua condução, desvio de recursos para fora do país, mas não chegou a tão bom termo quanto a atual: seria principalmente o contexto institucional em que as duas se desenrolaram. Quando do início da Lava Jato, explicou, a intolerância à criminalidade do colarinho branco já era bem maior no país do que no passado. A Lava Jato, na definição de Moro, também se ocupa da grande corrupção, a qual classifica como aquela praticada em larga escala envolvendo figuras da República.

O juiz de Curitiba também fez uma revelação contra a qual mesmo os críticos da Operação terão dificuldade de se posicionar: não foi a Lava Jato que causou grande desconfiança nas instituições e, por consequência, na democracia. O desencanto é consequência direta das revelações sobre o grau da corrupção no sistema político e estatal brasileiros. “O pior dos males da corrupção sistêmica é a descofinaça no regime democrático, que demanda confiança, a crença em que as pessoas vão seguir a regra do jogo. Quando se percebe que a trapaça é generalizada, cria-se uma desconfiança nas instituições que afeta diretamente a confiança na democracia”, disse.

Mais eloquente e oportuno, impossível! Daí que o pior custo da corrupção sistêmica, evidentemente, não é o econômico, que já é exacerbadamente alto, mas a desconfiança nas instituições e na democracia. Para enfrentar tal estado de coisas, é preciso, em primeiro lugar, quebrar a longa tradição, de que toda a Nação tem conhecimento, da impunidade, para o que é fundamental que o sistema de justiça criminal funcione, envolvendo aí o MP, a Justiça e a Polícia. Mas, como bem assinalou Moro, a sociedade civil e o mundo corporativo, este último mesmo sujeito aos esquemas de extorsão, precisam começar a fazer sua parte, denunciando. Alguém tem dúvida?

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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