Foto: Divulgação/Arquivo
José Ronaldo precisa apresentar um projeto para a Bahia, já que nem o anti-petismo ele consegue encarnar 23 de julho de 2018 | 11:17

Ovo ou galinha na chapa do democratas, por Raul Monteiro*

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A maneira como a candidatura do democrata José Ronaldo foi definida explica parte dos dilemas que ele enfrenta e vem tentando resolver de forma verdadeiramente elogiável. Para quem entrou em campo praticamente no meio do segundo tempo para enfrentar um adversário fortalecido, sem a composição do próprio time, que passou a escalar com os parcos recursos que sua condição lhe impôs de cara, não é pouco o que conseguiu construir até agora, com a ajuda do prefeito ACM Neto (DEM), que lhe passou a bola com o jogo em andamento, e de parceiros tradicionais e firmes como o PSDB.

No calor da decisão que tomou de se candidatar, em seguida ao anúncio do prefeito de Salvador de que não concorreria ao governo, José Ronaldo já demonstrava que, apesar de a situação toda apontar para a emergência de um reserva, não estava ali para brincadeira, bem como seu passado o credenciava para ser considerado um verdadeiro player em todo o processo. Neste sentido, o de fortalecer sua pretensão em meio a um cenário de surpresa e até desânimo, a acolhida que recebeu dos aliados foi fundamental para que pudesse encorpar sua candidatura a partir daquele momento.

Se conseguiu trilhar bem os primeiros passos num caminho tão incerto e inteiramente por desbravar, José Ronaldo tem revelado pelo menos duas grandes dificuldades, que parecem totalmente interdepententes. A primeira delas é a montagem da chapa com que pretende disputar a sucessão, que de certo só tem até agora o deputado federal Jutahy Magalhães Júnior (PSDB), candidato a uma das duas vagas disponíveis ao Senado, num quadro em que seu único e principal adversário, o governador Rui Costa, candidato à reeleição, já definiu praticamente todas as peças, só ampliando seu favoritismo na corrida eleitoral.

O segundo é a dificuldade de dizer em que faixa sua candidatura efetivamente se inscreve, já que nem o discurso do anti-petismo tem conseguido esboçar até agora. Aparentemente, o principal impasse para a montagem da chapa de Ronaldo é um desentendimento com o PSC, interessado num espaço para o deputado federal Irmão Lázaro, que impôs concorrer apenas à segunda vaga de senador, apesar de qualquer análise política fria saber que só poderá efetivamente colaborar com o pré-candidato do DEM se disputar a vice, hipótese em que seus votos ficarão irremediavelmente vinculados a Ronaldo.

Mas se as atenções de todos têm voltado-se para a dificuldade de um acerto com o PSC, falta ainda definir também o vice, sobre o qual ninguém fala nem especula exatamente porque o caso Irmão Lázaro parece absorver todas as energias. Mais complicado, no entanto, é o fato de Ronaldo não ter esboçado até agora uma linha do que pretende para o Estado, muito menos de como comunicar seu projeto, como se estivesse à espera, primeiro, de definir seus parceiros de chapa para só então dar conhecimento a eles do que pretende para a Bahia e não o contrário.
* Raul Monteiro é editor da coluna Raio Laser e do site Política Livre e escreve neste espaço às segundas e quintas-feiras.

Raul Monteiro*
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