Foto: Zguiotto
Eduardo Giannetti da Fonseca, filósofo e economista, que cunhou a expressão "rebelião tributária" 28 de maio de 2018 | 07:58

O embrião da rebelião tributária, por Raul Monteiro*

exclusivas

Só mesmo um embrião de rebelião tributária para justificar o apoio de grande parte da população à greve dos caminhoneiros, um movimento corporativo, liderado por empresários donos de transportadoras, responsáveis por 70% do mercado, destinado não a beneficiar a sociedade como um todo com o barateamento de todos os combustíveis, dos fretes ou a melhora da condição de trabalho dos motoristas que empregam, mas a defender uma pauta corporativa em que o objetivo é maximizar seus lucros, mesmo que à custa da já sacrificada e espoliada classe de contribuintes brasileiros.

O termo foi tomado de empréstimo do economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, que o cunhou ontem, em excepcionalmente lúcida entrevista que deu à Folha sobre o crítico momento vivido pelo país e o patrimonialismo de sua cada vez mais insensível e vulnerável classe política. Serviria para definir, conforme ele mesmo enuncia, uma insubordinação que começa quando a população não aceita mais a legitimidade do governo para tributá-la. A propósito, Giannetti lembra que a revolução americana começou com o lema “no taxation without representantion” [não há tributação sem representação].

Por este motivo, não há como não responsabilizar o governo do cada vez mais emparedado presidente Michel Temer, representante máximo da representação que não representa mais ninguém, pela eclosão da crise. Diante de um quadro em que tanto o dólar quanto o petróleo seguiam rota de elevação constante, o que ele deveria ter feito, se tivesse competência e sensibilidade, era ordenar a diminuição dos impostos sobre os combustíveis, de forma a evitar o estrangulamento do setor de transportes e da sociedade. A sanha por arrecadar mais o impediu de ver os fatos com o risco com que eles já vinha se apresentando.

Afinal, provavelmente conforme a sua previsão, se é que tem alguma, era preciso continuar achacando a sociedade para fazer frente ao rombo que, justiça se faça, Temer herdou das gestões petistas, mas ao mesmo tempo manter a farra com que o Estado brasileiro e toda as suas instâncias, inclusive a elite do funcionalismo, se locupleta a cada dia, como se não houvesse amanhã, assim como a grande maioria dos nossos ilustres deputados e senadores continuam fazendo, entre outros meios, além dos privilégios a que legalmente fazem jus, por meio das emendas milionárias que destinam a municípios com objetivos eleitoreiros.

Temer errou feio, colocando em risco o ensaio liberal que permitiu que um técnico competente como Pedro Parente executasse na Petrobras e a manteria no patamar que alcançara nos últimos dias de empresa de maior valor do país, depois do estrago de que foi vítima do PT e de seus dirigentes politicamente indicados e gananciosos, não fosse sua vexatória incapacidade que colocou não só a empresa como todo o país no precipício. A greve que os petroleiros ensaiam para esta quarta, em apoio oportunista ao caos provocado pela dos caminhoneiros, é uma prova de que, quando Lula indicou Temer para vice de Dilma Rousseff, ele queria ver a obra do PT completa.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
Comentários