Foto: Divulgação/Arquivo
Prefeito de Salvador ACM Neto 09 de abril de 2018 | 18:48

Saída de ACM Neto hoje é trabalhar por unidade, por Raul Monteiro*

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O maior desafio das oposições depois da hecatombe provocada pela decisão de ACM Neto (DEM) de não concorrer ao governo é acolher todos os mortos e feridos produzidos pela catástrofe para construir a unidade em torno de um único nome à sucessão estadual, condição essencial para que o ungido, ao final dos entendimentos, herde o mínimo da competividade que o nome do prefeito inspirava na disputa contra o projeto de reeleição do governador Rui Costa (PT). Daí porque é, para dizer o mínimo, extrema a responsabilidade do próprio prefeito em, senão conduzir, pelo menos ajudar em todos os acertos para que se chegue à melhor alternativa possível.

Mais do que nunca, Neto precisa demonstrar de público que, embora tenha decidido não concorrer, não importa por que razão pessoal, um campo em que a política não se presta a apresentar explicações, provocando a imensa frustração nos aliados que se elevou como uma onda em seguida ao anúncio da desistência, tem compromisso real com a sobrevida do grupo que conduziu até aqui com extrema competência e, sobretudo, sob a confiança que adquiriu por sua irretocável capacidade de liderá-lo. É a única forma de minimizar a revolta gestada por sua opção, que também começa a produzir, tanto entre aliados como nos adversários, as mais diversas especulações sobre sua real motivação.

Achar que os quatro anos que o separam do próximo pleito estadual, quando será mais uma vez considerado um nome natural para a sucessão caso a oposição seja de novo derrotada por Rui Costa, serão suficientes para curar as feridas dos sobreviventes, é um risco fenomenal. Pode ser interpretado, inclusive, como provocação ou mesmo a confirmação de teses conspiratórias e inaceitáveis que grassam aqui e ali de que seu objetivo, ao final, era destruir a todos com o propósito de reinar sozinho de agora, quando teve a capacidade de impor sua decisão a todos, até 2022, ano em que pode querer disputar num cenário em que o PT terá, pelo desgaste natural, muito mais dificuldades para fazer o sucessor.

Para tanto, o que o prefeito precisa primeiro admitir, caso não queira perder as condições de continuar liderando todo o grupo, é que não pode esticar a corda acima do limite com relação à influência na montagem da chapa que, reunindo os caquinhos, os demais líderes oposicionistas começam a articular, sob ainda muito desânimo, para enfrentar o PT. Até aqui, era até natural e esperado que, em seguida à sua decisão, para não perder tempo e controlar os danos, o prefeito se armasse com a candidatura ao governo de um nome de seu partido, o ex-prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo, desde o início seu substituto preferido, de forma a demonstrar que sua opção de não concorrer não o paralisou nem a todo o grupo.

O bem vindo desejo de consertar o caos criado não pode significar, no entanto, que poderá simplesmente impor o nome do democrata às demais forças que permanecem ao seu lado, sob pena de produzir mais destruição e passar a impressão de que faz pouco caso das consequências de sua importante retirada de cena. A resposta do PSDB, o mais fiel e cooperativo dos seus aliados até aqui, anunciando o nome do deputado federal João Gualberto ao governo, precisa ser acolhida, da mesma forma que acatada a eventual opção do grupo por seu vice, Bruno Reis, hoje, para facilitar ainda mais a vida do prefeito, no DEM. Neste momento, Neto necessita, como nunca, abrir mão dos anéis para não perder os dedos.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado originalmente na Tribuna.

Raul Monteiro*
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