Foto: Politica Livre/Arquivo
Governador Rui Costa 05 de abril de 2018 | 07:26

Coragem e indignação de Rui calam MP, por Raul Monteiro*

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Não cobrem coragem ao governador Rui Costa (PT). Entre petistas ou auxiliares que com ele convivem, a característica é, de longe, a mais destacada quando se fala na personalidade do chefe do executivo estadual. Não fosse por ela, Rui não teria vencido todas as adversidades da infância e adolescência pobre para chegar ao comando do governo da Bahia, como ele próprio costuma dizer nos palanques e repetem aqueles que lhe são mais próximos, para os quais trata-se da virtude que essencialmente consagra a liderança política do petista, talvez na falta de algumas outras bem sensíveis.

E foi exatamente coragem, além de verdadeira indignação, o que Rui Costa demonstrou ontem ao comentar, de forma especialmente dura e igualmente inédita, a decisão do Ministério Público Estadual de propor à Justiça uma ação contra o Consórcio Fonte Nova Participações e o governo do Estado por supostos “ganhos excessivos” garantidos às empresas OAS e Odebrecht. Além de dizer que a ação carece de qualquer “consistência técnica e jurídica’, o governador ainda achou por bem dirigir críticas diretamente à promotora Rita Tourinho, responsável pelas investigações, numa contundência poucas vezes vista.

“Pelo que eu vi na imprensa, é um copia cola da operação [Cartão Vermelho) que foi feita. Isso vai ser provado no devido momento, porque há afirmações que não têm nenhuma consistência. Ali não passa por um beabá de qualquer conta, de qualquer raciocínio lógico”, afirmou um Rui Costa visivelmente contrariado, reproduzindo avaliação feita, momentos antes para ele, por técnicos do governo, que teriam ficado impressionados com o que consideraram falhas de avaliação da promotora, perceptíveis também, segundo lhe disseram, nas diversas entrevistas que ela concedeu sobre o assunto.

Não foi por outro motivo que o governador voltou diretamente suas baterias contra Tourinho, sem poupar, no entanto, o Ministério Público. Neste ponto, tocou num privilégio de que não apenas os promotores como os magistrados desfrutam sem a menor cerimônia. “Eu não sei quanto o responsável pela Fonte Nova ganha, se é muito, se é pouco. O que sei é que os promotores públicos, como Rita (Tourinho), recebem auxílio-moradia. É ético? É moral? Quem paga esse auxílio-moradia do promotor é o povo da favela, que está morrendo de fome, que não tem onde trabalhar”, bateu o governador, sem dó nem piedade, chamando a sociedade para seu lado.

Não foram muitas as vozes que se levantaram no próprio governo pedindo cautela a Rui Costa, certamente temerosas de que assuma uma briga que será dura de sustentar contra um órgão que, quando quer, sabe criar problemas como ninguém para um gestor. Mas não foram poucas as outras que defenderam como justa e oportuna sua demonstração pública de indignação, ainda mais depois de uma precisa análise sobre os questionamentos do MP, para os quais o governo alega ter justificativas de sobra. Dado o silêncio em que o MP mergulhou, não há como não reconhecer que Rui Costa isolou, lá dentro, aqueles que tentaram, a seu ver, sem a devida competência, atacar o governo.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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