Foto: Jorge Silva/AFP
O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski 21 de março de 2018 | 20:11

Após caso Odebrecht, presidente do Peru renuncia ao cargo

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O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski (PPK), renunciou ao cargo ontem, menos de 24 horas antes da votação no Congresso que poderia afastá-lo definitivamente do cargo por “incapacidade moral”. Acusado de ter recebido dinheiro da construtora Odebrecht quando ainda era ministro de Alejandro Toledo, em 2005 e 2006, PPK escapou da destituição em dezembro após conseguir reverter votos de opositores e em seguida conceder o indulto ao ex-presidente Alberto Fujimori. Depois de entregar sua carta de demissão ao Legislativo, o presidente peruano deixou o palácio de governo, em Lima, onde momentos antes havia se despedido de funcionários, vários dos quais choraram após a confirmação da sua renúncia. Em pronunciamento gravado e exibido pela emissora estatal peruana, Kuczynski afirmou que sempre trabalhou de forma honesta apesar de a oposição tentar retratá-lo como uma pessoa corrupta. Ele também disse que o país terá uma transição de poder ordeira e constitucional. “Diante desta difícil situação que se criou (…) acredito que o melhor para o país é que eu renuncie à presidência da república”, disse PPK, acompanhado por membros de seu gabinete ministerial. Kuczynski tomou a decisão após uma reunião do Conselho de Ministros. A situação do presidente peruano se tornou insustentável depois que, na terça-feira, o partido de oposição Força Popular, liderado pela ex-candidata presidencial Keiko Fujimori, divulgou uma série de vídeos no qual o irmão dela, Kenji Fujimori, e alguns congressistas ligados a ele oferecem obras públicas ao também parlamentar Moisés Mamani em troca do voto contra o impeachment de Kuczynski. Segundo PPK, as imagens dos vídeos foram editadas e causaram “uma grave distorção do processo político”. Com a renúncia, o primeiro vice-presidente do Peru, Martín Vizcarra, que também é embaixador no Canadá, deverá assumir a liderança do país até o fim do mandato, em julho de 2021. PPK, um ex-banqueiro de Wall Street de 79 anos, tomou posse em julho de 2016, após derrotar Keiko nas urnas. Nesta quinta, Salvador Heresi, dirigente do partido governista, e outros aliados de PPK, mesmo os que deixaram o partido governista e são independentes, pediram a renúncia do presidente e afirmaram que votariam a favor de seu impeachment caso ele não deixasse o poder. Ministros do governo também pediram a saída do presidente. A renúncia deverá ser aprovada pelo Congresso, mas a esquerda peruana antecipou ontem que não a aceitará e manifestou sua intenção de levar adiante o processo de destituição. A Frente Ampla e o Novo Peru, as duas formações de esquerda na Câmara, vão rejeitar a renúncia por considerar que Kuczynski não mostrou arrependimento pela compra de votos. Seriam necessários 87 votos dos 130 membros do Congresso para a aprovação do impeachment, que seria votada hoje. Pelas contas de políticos peruanos, ao menos 90 deputados já tinham se mostrado favoráveis à destituição do presidente. A oposição passou a pressionar Kuczynski a deixar o cargo após a denúncia de que a construtora brasileira Odebrecht pagou mais de US$ 782 mil a sua empresa, a Westfield Capital, por consultorias entre 2004 e 2007, período em que ele era ministro. PPK sempre negou as acusações e disse que seu sócio, o chileno Gerardo Sepúlveda, foi quem assinou o contrato de assessoria financeira da Odebrecht. A construtora respaldou as afirmações, dizendo que os pagamentos foram legais e gerenciados por Sepúlveda. PPK sobreviveu em dezembro a outra moção depois que deputados do Força Popular, entre eles Kenji Fujimori, se abstiveram de votar. Três dias depois, Kuczynski indultou o ex-presidente Alberto Fujimori, detido por violação dos direitos humanos. O indulto foi interpretado como um acordo em troca de apoio parlamentar.

Estadão Conteúdo
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