Foto: Divulgação/Arquivo
ACM Neto durante ato de lançamento de programa da Prefeitura 19 de fevereiro de 2018 | 08:28

Neto, o mestre do suspense, por Raul Monteiro*

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Quem conhece o prefeito ACM Neto (DEM) de muito perto diz que ele guarda muito do estilo decisório do avô. A lembrança é feita a fim de assinalar que pode residir aí um dos primeiros elementos para se buscar entender os movimentos políticos do democrata. Não é por outro motivo que muitos políticos lembram como ACM atuou em 1990, quando voltou ao governo do Estado. Na época, o experiente cacique se resguardou de qualquer posicionamento até 15 dias antes da convenção do então PFL, deixando que se especulasse à vontade sobre qual seriam seus planos, exatamente como ocorre agora com o Neto.

O à época ministro das Comunicações só quebraria o silêncio para dar uma luz ao seu grupo político num almoço ocorrido numa sexta-feira ou num sábado, conforme muitos se lembram, no restaurante Baby-Beef, do qual participariam cerca de 30 aliados, no qual pela primeira vez admitiu explicitamente que disputaria o governo. É verdade que os tempos eram outros. O governo Nilo Coelho, sucessor da mal aventurada decisão do ex-governador Waldir Pires de disputar a vice na chapa presidencial de Ulysses Guimarães depois de uma gestão sofrível na Bahia, caía pelas tabelas, tamanha a impopularidade.

Do almoço de fim de semana que deixou seu grupo alvoraçado, ACM programou então uma coletiva para a segunda-feira seguinte na sede do jornal Correio da Bahia, localizado na época na Avenida Paralela, onde funcionaria seu QG de campanha. Começava ali a campanha vitoriosa que reconduziu o carlismo ao poder na Bahia, no qual se manteve até a histórica eleição na qual o petista Jaques Wagner, aparentemente sem chances, derrotaria o então governador Paulo Souto (DEM), 16 anos depois. Pode estar aí, de fato, uma pista para se entender o comportamento excessivamente comedido do prefeito nos dias atuais.

Neto, com efeito, tem sido um mestre do suspense com relação ao próximo passo, justificadamente. Afinal, não é fácil deixar uma Prefeitura no meio de um segundo mandato em que consolidou sua liderança não só no campo da oposição no Estado como no plano nacional. Ocorre que um eventual recuo na decisão de concorrer pode simplesmente destruir as oposições, situação com a qual, como líder político, ele não há de querer concordar. Além disso, permanecendo na Prefeitura, o jovem político pode ver também seu projeto de fazer o sucessor em Salvador, em 2020, enormemente dificultados.

Com o plano de obras que já executa na capital baiana e pode ampliar num eventual segundo mandato, o governador só não marchará com tudo no sentido de tentar, a qualquer custo, fazer o sucessor do hoje prefeito, se desejar aposentar-se da política, o que não parece ser o caso. Portanto, para Neto, deixar para concorrer ao governo apenas em 2022, sem o controle da Prefeitura que conquistou a duras penas em 2012, pode se tornar missão duríssima, mesmo que no final de um quarto mandato do petismo na Bahia, com a fadiga de material que o tempo deverá ter produzido até lá para seus representantes.

* Artigo publicado pelo editor Raul Monteiro na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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