21 de janeiro de 2018 | 11:30

Risco de registros urbanos de febre amarela é pequeno, dizem especialistas

brasil

O aumento de casos de febre amarela, com pessoas se contaminando nas franjas de matas nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, reacende um velho medo que surge a cada novo ciclo: a febre amarela pode voltar a ser uma doença urbana? A possibilidade existe, mas é muito pequena. É o que defendem especialistas ouvidos pelo Estado com base em pesquisas sobre a evolução da epidemia e a biologia do vírus e dos mosquitos transmissores. O ressurgimento da transmissão urbana, ou seja, por mosquitos que vivem na cidade, como o Aedes aegypti, depende basicamente de três condições: ter muita gente contaminada em estado de viremia (com a presença do vírus circulando no sangue), vivendo em uma área onde haja uma população muito grande de mosquito e com capacidade de transmitir o vírus da febre amarela. As longas e demoradas filas em busca da vacina na última semana podem até dar a sensação de que esta é a situação atual, mas os pesquisadores são categóricos: não é. Para começar, a população de mosquito, por mais que traga uma série de problemas – vide as epidemias de dengue, zika e chikungunya dos últimos dois anos -, é considerada pequena para a febre amarela. “Na época em que a febre amarela era exclusivamente urbana (até o começo dos anos 1940), a densidade de mosquitos nas cidades era muito maior. O necessário para ter a transmissão urbana seria ter pelo menos o dobro do que temos hoje”, explica o virologista e epidemiologista Renato Pereira de Souza, pesquisador científico do Instituto Adolfo Lutz. Todos os casos registrados nas últimas décadas foram e são exclusivamente do tipo silvestre. A contaminação ocorre quando uma pessoa sem vacina entra em área de floresta, como a região da Cantareira, na zona norte de São Paulo, ou está em um local rural próximo de uma mata e é picada por um mosquito silvestre que só vive ali. Esses insetos podem até voar em áreas urbanas contíguas a parques, mas nunca irão para dentro das cidades (veja página ao lado). Nas cidades, a transmissão caberia ao Aedes. Mas o mosquito que circula nas cidades brasileiras, apesar de ser capaz de transmitir a febre amarela, não é tão competente assim como vetor do vírus. Então seriam necessários muitos mosquitos para impulsionarem uma epidemia. Até as décadas de 20 e 30, as variantes de Aedes que existiam no Brasil eram de origem africana, essas sim bem aptas a transmitir o vírus. Mas elas foram erradicadas. A variante atual é asiática menos capaz.

Estadão
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