Foto: ANDRE DUSEK/ESTADAO
Bancada feminina da Câmara se reúne em votação de reforma política, em junho de 2015 23 de outubro de 2017 | 11:10

Desunião em bacada de mulheres paralisa pauta da causa feminista

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Deputadas e senadoras têm enfrentado dificuldades em emplacar suas pautas no Congresso. Além de uma baixa representação parlamentar – são apenas 55 deputadas e 13 senadoras -, a bancada feminina não consegue chegar a um consenso sobre assuntos que envolvem temas mais ligados à causa feminista, como o aborto. Entre os pontos que unem a bancada, estão o fim da violência contra a mulher e o aumento da participação feminina na política. Mas, mesmo assim, os projetos costumam emperrar no plenário. Nas últimas semanas, as deputadas tentaram viabilizar a votação de uma proposta que reserva vagas para as mulheres nas Assembleias Legislativas, Câmaras Municipais e na Câmara dos Deputados. Mesmo após diversos apelos ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a proposta de emenda à Constituição não foi colocada em votação. Apesar do empenho da coordenadora da bancada feminina na Câmara, deputada Soraya Santos (PMDB-RJ), a PEC não recebeu o apoio da maioria dos líderes da Casa, quase todos homens. Por se tratar de mudanças nas regras eleitorais, ela precisava ter sido aprovada até o dia 7 de outubro para valer para as eleições de 2018. A dificuldade da bancada feminina aumenta quando entram em campo temas mais ligados à causa feminista. O grupo, por exemplo, não tirou uma posição sobre a proposta que está para ser votada em uma comissão da Câmara e que, além de impedir debates futuros sobre o aborto, ao colocar na Constituição que a vida começa a partir da “concepção”, põe em risco a legislação já em vigor que permite a interrupção da gravidez no País em alguns casos. Para a deputada Maria do Rosário (PT-RS), a dificuldade de enfrentar esse debate ocorre porque o perfil mais conservador do Congresso nesta Legislatura também se reflete na bancada feminina. Entre as 55 deputadas, por exemplo, quase metade (23) ou faz parte da bancada evangélica ou da ruralista, duas das frentes mais conservadoras da Casa. A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) concorda com essa avaliação. “Se entra na questão da religião, aí você não tem unidade entre as mulheres. A bancada se divide mesmo, cada um vai de acordo com a sua consciência”, disse. Para a deputada Shéridan (PSDB-RR), que ganhou destaque nas últimas semanas como relatora de uma das propostas da reforma política, esse tema não tem de ser levantado pela bancada. “Sou a favor da vida, hoje temos inúmeros formas de se precaver, acho que algumas bandeiras feministas confundem e confrontam essa questão de maneira equivocada”, disse. “O direito da mulher é uma coisa, o direito à vida é outra”, afirma.

Estadão
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