Foto: Ag. Brasil/Arquivo
Ex-ministro Antonio Palocci 28 de setembro de 2017 | 08:58

Palocci, exemplo para o país, traidor para a seita, por Raul Monteiro

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A carta em que o ex-ministro Antonio Palocci, a pretexto de pedir sua desfiliação do PT, arrasou moralmente o ex-presidente Lula não é só reveladora porque compõe um demolidor perfil íntimo do líder petista mas porque expõe a mais completa inversão de valores a que o partido que chegou ao poder prometendo mudar os costumes políticos no país, influenciado pela necessidade de defender sua maior liderança a qualquer custo, sucumbiu. É o próprio Palocci quem, sabiamente, deixa clara a tragédia petista, ao afirmar que não lhe resta alternativa senão pedir o desligamento do partido.

Segundo o ex-ministro, um presidiário, não há mais espaço para ficar num partido que, desconsiderando todos os malfeitos praticados por ele e revelados à Justiça, além de sua própria prisão, prefere submetê-lo a um processo inquisitorial sobre se deve ou não permanecer na legenda exclusivamente porque ousou revelar detalhes de como atuava antirepublicanamente um ex-presidente que se vendeu como a esperança de redenção política, econômica, social e moral de um país inteiro. Virar as costas para tantas evidências, na visão de Palocci, significa que o PT deixou de ser um partido para virar uma seita.

Na verdade, o ex-ministro, tantas vezes ele próprio pilhado em comportamentos antirepublicanos antes da debacle petista, afirmou publicamente o que qualquer cidadão de bom senso pensa quando compara o PT que concorreu à Presidência da República com aquele que a deixou, 13 anos depois, sob o impeachment de uma gestão desastrosa, que levou as contas públicas à mais completa bancarrota. Aliás, esse é um dos momentos em que o ex-ministro demonstra que, além de sincero, mantém intacta a lucidez, apesar de tantas derrotas pessoais e de uma prisão que se prolonga indefinidamente.

Aliás, lucidez e inteligência, atributos que nele sempre sobressaíram no PT, foram algumas das marcas com que Palocci chegou ao poder junto com Lula, as mesmas que permitiram que construísse uma ponte entre o então candidato presidencial e o mercado por meio da sábia “Carta ao Povo Brasileiro” e externasse suas visões na economia que, no primeiro termo do petismo na presidência, asseguraram a manutenção da estabilidade e dos fundamentos que começariam a ser subvertidos depois por um Lula já cheio si e do descompromisso completo com a responsabilidade.

Tivessem o mesmo bom senso de Palocci e um desejo sincero de ver o país se transformar, o divino Lula e seus fiéis seguidores deveriam admitir publicamente, assim como ele, que erraram, dispondo-se a se submeter sinceramente à Justiça e à lei. Falta-lhes, no entanto, grandeza, um déficit com que já conviviam muito antes de terem chegado todos ao poder, cuja tomada, pelo que pontua o ex-ministro, não pode ser vista como a origem do lamentável grau de corrupção em que se lambuzaram. Palocci não traiu o PT e Lula, como a seita pretende caracterizar, desqualificando-o, mas, reconhecendo seus erros e os dos outros, criou as condições para reabilitar-se perante todo um país.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

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