14 de agosto de 2017 | 09:51

O apavorante desencanto com a democracia, por Raul Monteiro

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O mais preocupante sobre a pesquisa Ipsos divulgada ontem que constatou rejeição generalizada da sociedade brasileira à classe política é a informação, igualmente estarrecedora, sobre como o brasileiro avalia a democracia: apenas metade da população considera que trata-se do melhor sistema político para o Brasil, como se houvesse alguma alternativa a ele que não a ditadura, com a clássica suspensão dos direitos civis e políticos, em outras palavras, a implantação de um regime autoritário, em que o primeiro valor a sucumbir fosse o da liberdade, conquistada a duras penas no Brasil.

O resultado do levantamento dá também uma pista sobre porque se hipoteca apoio, entre brasileiros, tanto a uma figura como o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) quanto ao regime ditatorial de Nicolás Maduro, na empobrecida Venezuela. O primeiro já homenageou publicamente o coronel Brilhante Ulstra, um dos ícones da repressão, ao passo que Maduro quer fazer uma nova Constituição que lhe dê plenos poderes, como se o de prender e trancafiar adversários e colocar a polícia e milícias contra quem quer que lhe faça oposição não fossem suficientes para seu deplorável projeto totalitário.

De fato, não dá para ter mais do que 6% da população brasileira sentindo-se representada por uma classe política ou um Congresso que aprova a destinação de R$ 3,6 bi para um Fundo Partidário com o objetivo de bancar as próximas campanhas eleitorais num dos momentos mais difíceis vividos pelo Estado brasileiro e ainda mais sob um cenário de aprofundamento da desigualdade social no país imposto pela crise econômica. Não custa lembrar que o poderoso status adquirido pelo Fundo é resultado da extinção da contribuição empresarial às campanhas, uma proposta petista vendida falsamente como a solução para a crise moral do financiamento de políticos.

Por ocasião de sua formulação, num período de extremo poder petista, não foram poucos os alertas de que redundaria exatamente no que acontece agora: no escárnio de os congressistas tentarem, a qualquer preço, transformarem o Fundo na solução de todos os seus problemas econômicos de campanha e, por que não, profissionais e de vida. As demais propostas surgidas agora a pretexto de uma reforma política também não chegam a animar ninguém de sã consciência, exatamente por causa de seu casuísmo e oportunismo desavergonhado.

Felizmente, os dados do Ipsos não são só essencialmente negativos. Mostram também, por exemplo, que, após um ciclo de acirramento da polarização política no País, há uma ânsia por iniciativas de conciliação. Nada menos do que 88% dos entrevistados concordam com a afirmação de que “as pessoas deveriam se unir em torno das causas comuns e não brigar por partido A ou partido B”. Parcela similar considera que “brigar por partido A ou B faz com que as pessoas não discutam os reais problemas do Brasil”. Um sábio sinal de que campanhas divisionistas, como a do condenado Lula, enfrentarão resistência na população.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro
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