Foto: Divulgação/Arquivo
Assim como Neto, em 2015, Rui viu ontem uma proposta de acordo para ajudar a Bahia ser desfeita 03 de agosto de 2017 | 07:29

História de Neto se repete com Rui, por Raul Monteiro

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A história do suposto acordo entre o governador Rui Costa (PT) e Michel Temer (PMDB), desmentido ontem por aqueles acusados de celebrá-lo pela Bahia, inclusive o petista, remete a outro, de dois anos atrás, que havia sido costurado entre o prefeito ACM Neto (DEM) e a então presidente Dilma Rousseff (PT). Assim como o de anteontem, o de 2015 também não foi cumprido. Por trás de ambos, a tentativa dos gestores baianos, Rui, agora, Neto, naquele ano, de viabilizar recursos para as suas respectivas gestões, numa evidência da dependência da Bahia do dinheiro da União e da propensão de governantes políticos a separarem, no sentido maquiaveliano, política de ética.

Em ambos, o governador e o prefeito contaram com intermediários no Legislativo. O acordo apresentado a Rui fora intermediado pelo senador Otto Alencar (PSD), que acreditou na promessa da articulação política do presidente Michel Temer (PMDB) de liberar um empréstimo que ajudara a negociar com o Banco do Brasil, no valor de R$ 600 milhões, para investimentos nas obras do metrô de Salvador e de estradas pelo interior da Bahia. A tentativa de entendimento de Neto com Dilma envolvera recursos da ordem de R$ 400 milhões e passara diretamente por Temer, que na época era vice-presidente e tentara, sem sucesso, funcionar como articulador político dela no Congresso.

Nos dois, a contrapartida era alta, mas parecia simples a ambos. Rui teria que entregar alguns votinhos da bancada de 25 deputados que lidera na Câmara para colaborar ontem com a derrubada do pedido para que Temer fosse processado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Os deputados nem precisavam votar abertamente a favor de Temer. Dando quorum para o início da sessão e abstendo-se, em seguida, já seria suficiente. Neto se comprometera a dar os votos da bancada do DEM da Bahia à aprovação da proposta de ajuste fiscal que Dilma tentara fazer no início do desespero para salvar seu mandato, que acabou finalizado por um impeachment.

Nenhum dos dois logrou êxito. Tudo pronto para que dois secretários estaduais exonerados por Rui voltassem à Câmara, com o objetivo estrito de ajudar Temer participassem da votação, abstendo-se de votar no relatório que pedia o arquivamento da denúncia contra o presidente, Otto Alencar foi informado de não havia mais garantia de que o empréstimo seria liberado. Não lhe restou alternativa senão comunicar que o acordo com o presidente da República havia sido desfeito e protestar. O resultado foi um verdadeiro cavalo de pau na promessa de votos do governo estadual no presidente, que já confiava em sua absolvição, como a votação que entrou pela noite mostrou.

No caso de Neto, não foi menor o desgaste, na época. Depois de assegurar apoio político no Congresso a um governo ao qual deveria por princípio se opor, inclusive porque a proposta de ajuste fiscal de Dilma não inspirava a menor confiança, o prefeito sentou e aguardou os R$ 400 milhões que pretendia empregar em obras de proteção contra as chuvas, que acabavam de devastar a cidade como não se via há duas décadas, além da liberação de recursos para o BRT que nunca chegaram. Como fez Otto Alencar, não lhe restou alternativa, senão protestar contra a falta de palavra da então presidente e de sua turma.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro
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