Foto: Reprodução/Arquivo
Presidente Michel Temer 31 de julho de 2017 | 09:32

O novo desvario do governo Temer, por Raul Monteiro

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Não se contesta que o episódio Joesley Batista, que envolve tanto o grampo escuso quanto o generoso acordo com que o empresário foi contemplado pela Procuradoria Geral da República, provocaram uma reviravolta na agenda econômica do governo Michel Temer (PMDB), o qual, ainda mais fragilizado, passou a lutar de forma quase exclusiva para salvar a própria pele na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, comprometendo todo o esforço do governo, até aquele momento bem sucedido, no sentido de permitir que o país voltasse a respirar economicamente.

Não fosse a aprovação da reforma trabalhista pelo Congresso e já se poderia dizer que as razões políticas que viabilizaram o impeachment, permitindo a ascensão de um vice no qual a sociedade nunca depositou confiança mas em que esperava, desesperadamente, a racionalidade e o bom senso que faltavam à titular, deixaram de fazer completamente sentido. O problema, entretanto, deixa de ser menos a distância que Temer representa para o ideal consciente de um presidente de que o país efetivamente precisa e o risco de que, pressionado pelas circunstâncias, promova uma guinada populista.

Mesmo porque, do ponto de vista de imagem, não há mágica que a recupere para alguém que não a possui nem capacidade de construí-la em momento tão difícil, ainda mais sob contingências tão espinhosas, como a necessidade de tomar as medidas cujo valor só será percebido, se tiver muita sorte, em algum longínquo lugar do futuro. É por este motivo que não faz o menor sentido agora o desejo, já manifesto por alguns auxiliares do presidente, de rever a meta fiscal, ampliando para além dos R$ 139 bilhões o estrondoso déficit previsto para o país.

Ao invés de se encantar com a hipótese de fazer uma média com a população que não virá, o presidente deveria, ao contrário, além de cortar na própria carne do Executivo os privilégios que em boa medida são os grandes responsáveis pelo descalabro fiscal em que as gestões petistas mergulharam o país, na medida do possível, permitir que a população tome conhecimento daqueles praticados à larga em Poderes como o Legislativo e o Judiciário. Dizer que as medidas atiçariam as corporações dos funcionários públicos contra o presidente como argumento para paralisá-lo não procede.

O corporativismo boicota tanto o mandatário quanto o país desde que assim se constituiu, pelo Varguismo, a partir dos anos 40. E não se tributa senão a ele, com a ajuda de uma casta que julga todo mundo e se considera acima de todos, a ida pelos ares da reforma da Previdência, essencial a que parte das caras regalias bancadas pelo governo à custa do contribuinte comecem a ser extirpados. Felizmente, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), utilizou sua conta oficial no Twitter para dizer que é contra a alteração da meta fiscal. E pode-se dizer tudo de Rodrigo, menos que não tem poder.

* Artigo originalmente publicado na Tribuna da Bahia.

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