Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula/Arquivo
A sentença de Moro precisa ser confirmada em segunda instância para Lula ser impedido de disputar Presidência em 2018 13 de julho de 2017 | 07:19

Aberto caminho para Lula ficar inelegível, por Raul Monteiro

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Esperada há meses por petistas e anti-petistas, a condenação de Lula pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, deflagra, na prática, o início do processo que pode culminar na inegibilidade do ex-presidente, impedindo-o de concorrer já na sucessão presidencial do próximo ano, plano de seu grupo para resgatar o PT do fundo do poço, ajudar nas campanhas estaduais e, naturalmente, impedir que as investigações avancem, pelo menos com os métodos de que o Ministério Público Federal se utiliza hoje, que têm a prisão preventiva para obter delações como seu principal instrumento.

Da mesma forma que a sentença condenatória era aguardada e desde sempre o PT se preparou para ela, buscando habilmente caracterizá-la mesmo antes de ser prolatada como um ato de perseguição política, outras decisões judiciais contra o ex-presidente são esperadas da parte da Justiça em instâncias nas quais se encontram outros processos contra o petista. Para efetivamente ser impedido de concorrer, no entanto, Lula terá que ter uma dessas sentenças de condenação eventualmente confirmadas em segunda instância, o que o tornará um ficha suja, sem o direito de se candidatar.

Por não mandar o ex-presidente direto para a cadeia por “prudência”, permitindo que ele recorra da sentença em liberdade, Moro foi acusado de covardia por adversários políticos do petismo. Mas se objetivava impedir que o país convulsionasse em torno de uma medida por si só bombástica, que rapidamente espalhou-se pelo mundo, obtendo a atenção dos principais veículos de comunicação do globo, foi vencido pela realidade. Rapidamente, manifestantes a favor e contra o ex-presidente iniciaram protestos em vários Estados do país, comemorando ou condenando a decisão do juiz de Curitiba.

A reação do mercado foi, como sempre, imediata. As bolsas subiram e o dólar caiu, demonstrando toda a sua ojeriza à agenda petista, representada como nunca pelo ex-presidente, que mandou para o espaço a “Carta ao Povo Brasileiro” desde o segundo mandato e pela escolha destrambelhada da ex-auxiliar Dilma Rousseff para comandar o país. Quanto aos manifestantes, de lado a lado, era possível que saciassem sua fome de protestos até a noite, guardando energia para futuros protestos no momento em que outras sentenças a favor ou contra o ex-presidente venham a ser emitidas.

Na Bahia, principal Estado dirigido hoje no país pelo PT, a reação em defesa de Lula foi forte, liderada pelo governador Rui Costa e o antecessor, Jaques Wagner, figuras que, além de correligionários, são amigos pessoais do ex-presidente. Além de ter organizado com sindicatos uma vigília em defesa de Lula, o PT baiano resolveu convocar uma reunião para discutir a condenação, que considerou “arbitrária e ilegal”. Enfim, a inédita decisão envolvendo um ex-presidente da República, colocou Lula em campanha, não se sabe ainda se simplesmente para evitar ficar inelegível ou ser preso mais adiante.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

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