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Se antes dependia imensamente da bancada governista para tentar aprovar as reformas e justificar sua permanência no Palácio do Planalto, agora o presidente Michel Temer (PMDB) deve sua vida a ela 19 de junho de 2017 | 07:43

Uma quadrilha após a outra, por Raul Monteiro

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Se antes dependia imensamente da bancada governista para tentar aprovar as reformas e justificar sua permanência no Palácio do Planalto, agora o presidente Michel Temer (PMDB) deve sua vida a ela, principalmente depois da entrevista-bomba dada pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, à revista Época que circulou este final de semana. O quadro descrito por Joesley, em detalhes, sobre como funcionam políticos e partidos no Brasil é simplesmente estarrecedor, por mais que não constitua, na prática, nenhuma grande novidade para quem milita neste universo.

Mas é inegável que os anti-reformistas que vêm na queda de Temer a garantia de que não se mudará um milímetro de uma Previdência que é basicamente do funcionalismo público avançaram mais uma casa em relação a seu objetivo e tornaram a permanência do presidente ainda mais incerta e instável, senão mais dependente dos humores de um Congresso que, em sua maioria, funciona exatamente da forma como Joesley descreveu no seu depoimento histórico, construído numa narrativa tão perfeita e minuciosa que parece mais ter sido redigido do que efetivamente contado à publicação.

Embora Temer seja o foco das atenções no momento e tenha se tornado impossível assumir sua defesa ante o verossimilhante relato de Joesley, o protagonista do mais generoso acordo de delação premiada quiçá já celebrado pelo Ministério Público brasileiro não deixa de dar uma contribuição valiosíssima para se entender como o país mergulhou em tamanho grau de corrupção sistêmico e generalizado tendo como pano de fundo a máquina pública, ao estabelecer como recorte histórico para a máxima degradação do Estado brasileiro o governo do ex-presidente Lula.

“O PT institucionalizou a corrupção no país”, é o mínimo que diz o empresário, que de caipira só tem o jeito igualmente estudado. Aliás, nem a ex-presidente Dilma Rousseff, vendida como a mais pura alma no mar de lama em que seu partido se transformou, escapa de suas confissões desavergonhadas. Mais hábil do que os executivos que o antecederam no expediente da delação premiada e certamente jamais imaginaram que a Lava Jato atingiria o patamar que alcançou, Joesley consegue pintar de si mesmo o quadro típico do empresário vítima de quadrilhas políticas que se notabilizaram em achacar quem se aproximasse, dependesse ou tivesse negócios com o Estado.

Começou assim, segundo seu relato, com os quadrilheiros do PT e transcorria assim com os quadrilheiros do PMDB, incluído aí, sempre segundo seu depoimento, o tucano Aécio Neves, que, aliás, foi parceiro de Lula até ser preterido como candidato do petista à presidência em favor de Dilma, lá pelos idos de 2010. Joesley não deixa dúvidas de que era a certeza da impunidade e a facilidade para assaltar o Estado que transformaram no Brasil a atividade política no meio mais rápido e fácil de ascensão social e econômica. Ante o que ainda está por vir, só há uma solução: que a economia se descole da política para o bem de quem realmente leva este país nas costas.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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