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Michel Temer e Joesley Batista 29 de junho de 2017 | 07:40

O fantasma de Joesley entre Temer e Janot, por Raul Monteiro

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Já se sabe o preço que a sociedade brasileira pagará pela sobrevivência do combalido e indefensável presidente Michel Temer (PMDB) depois da denúncia por corrupção passiva feita contra ele pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot, na última terça-feira. Não são poucos os deputados da base que veem na situação uma oportunidade ímpar para elevar seu cacife na hora de votar pela rejeição da acusação contra o presidente. Trata-se de momento propício para mostrarem a Temer o quanto são seus amigos leais, solícitos, fraternos. E cobrarem a fatura que o contribuinte pagará.

Num país cuja população foi dividida pelo PT e em que a sociedade já chegou ao limite da tolerância com tanta instabilidade provocada por mudanças e escândalos políticos constantes, ainda mais sob um cenário em que a economia respira com a ajuda de aparelhos, falta hoje a chamada “rua” para liderar um movimento popular pela saída do presidente, o que é mais um incentivo para que o Congresso deixe-o aonde está e, melhor ainda, mais fragilizado e suscetível aos apelos e pressões de deputados e senadores. É o que a iniciativa do procurador, acusado de atuar politicamente pelo governo, poderá, no máximo, produzir.

Se, com a ajuda da cobertura portentosa que a Globo dá ao caso do presidente sem jeito, Janot produziu mais um estrago na nau de Temer capaz de sugerir um eventual naufrágio a qualquer momento, não foi, no entanto, menor o prejuízo que o principal mandatário do país gerou ao Ministério Público Federal, que justificadamente o acusa, com os ataques que dirigiu ontem, na maior sem cerimônia, ao procurador geral da República. Num caso claro de aberto confronto institucional que não se via desde a redemocratização, Temer insinuou que Janot recebeu dinheiro da JBS para produzir a denúncia que hoje é seu calcanhar de Aquiles.

Usou para isso o amplamente criticado acordo de delação premiada celebrado pelo procurador com o empresário Joesley Batista, reprovado, segundo o DataFolha, por mais de 70% da população brasileira, de tão acintoso, e fatos subsequentes, qual sejam, o pedido de exoneração de um procurador da República, que trabalhou na Operação Lava Jato, de um cargo vitalício e excelentemente remunerado para atuar como advogado no acordo de leniência da empresa sob, segundo o presidente, honorários milionários. Detalhe, sempre segundo Temer: o ex-procurador era diretamente subordinado a Janot.

O presidente não revelou o valor que teria sido negociado pelo ex-procurador com a J&F, controladora da JBS, mas, provavelmente ajudada por ele, Brasília toda comenta que ultrapassou a fábula dos R$ 50 milhões. Agora, até a OAB do Rio quer investigar a conduta do ex-procurador. Está aí uma “ilação”, para usar palavra do próprio presidente, que o desgastado Temer não ousaria fazer, caso Joesley, pelo quantidade de crimes que assumidamente cometeu, estivesse, como tantos outros empresários brasileiros que se apropriaram do Estado sob a liderança do PT e combinação com os partidos aliados, estivesse atrás das grades.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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