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04 de maio de 2017 | 07:59

Pelo acesso ao Vale Encantado, por Raul Monteiro

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Entende-se a preocupação que suscita em alguns o futuro do Vale Encantado e, fundamentalmente, sua preservação. Trata-se de área belíssima e privilegiada, com um milhão de metros quadrados, na região do bairro de Patamares, onde ainda é possível desfrutar do convívio com a mata atlântica, bioma brasileiro entre os mais importantes do mundo sob o risco constantemente denunciado de extinção. Não é preciso dizer que sua área abriga fauna e flora ricas e diversas em relação às quais a importância do trabalho de manter e preservar deve ser estimulado e divulgado.

Neste sentido, já atuam de forma espontânea grupos que se encarregam de promover visitas a suas lagoas e árvores centenárias, bem como de incentivar o uso de suas trilhas, colaborando para que cada vez um número maior de pessoas tome conhecimento sobre a qualidade do patrimônio natural de que Salvador dispõe e pertence à sociedade. Por isso, causa estranheza a reação a iniciativas que visam a permitir a construção de vias que dêem acesso ao Vale Encantado, assegurando que mais e mais cidadãos desfrutem de uma biodiversidade única que já não se encontra em muitos lugares.

Desde que acompanhada de ações que eduquem e ressaltem a importância de preservar o Vale, tais medidas só podem contribuir para que, por meio do acesso, os habitantes de Salvador que amam a natureza possam desenvolver um convívio saudável com uma área que, por definição, é de todos. Afinal, há inúmeros exemplos espalhados pelo mundo de que não se pode mais dissociar o sentido da preservação da utilização respeitosa, reverente mesmo, de espaços públicos formados pela natureza. O Hyde Park, em Londres, e o Central Park, em Nova Iorque, são alguns exemplos de que usuários podem ser os principais aliados na conservação.

Aliás, aqui mesmo em Salvador são pródigos os exemplos de que, quanto mais permanecem distantes da população, mais vulneráveis à toda sorte de depredações e ao banditismo se tornam os espaços os quais a sociedade teria o direito desfrutar se o acesso a eles fosse facilitado. O Parque da Cidade, recentemente recuperado pela gestão do prefeito ACM Neto (DEM), é um dos casos clássicos de que, ficando longe dos olhos da população a que pertence, áreas belas, que deveriam ser utilizadas para o prazer de todos, se tornam alvos fáceis, por exemplo, de invasões e do uso por bandidos, levando-as à destruição.

Para ficar apenas em outro exemplo ainda mais eloquente, basta lembrar do caso do Parque de Pituaçu, uma iniciativa do visionário governo de Roberto Santos, que já apostava no uso múltiplo de sua belíssima e encantadora área, na qual fez inserir esculturas de Mário Cravo, para o lazer de toda a população, mas infelizmente não contou com o apoio dos seus sucessores, os quais, além de terem dado pouca importância para o projeto grandioso que ali erigiu, não facilitaram em nada o acesso ao seu entorno, permitindo que se tornasse, em sua área mais profunda, um espaço para o desfrute praticamente exclusivo de marginais.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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