Foto: Arquivo/Agência Brasil
08 de maio de 2017 | 08:31

Lula já indica como eventualmente governará, por Raul Monteiro

exclusivas

Mais do que fazer a própria defesa ou mesmo apresentar justificativas para uma eventual prisão, o ex-presidente Lula (PT) já começou a revelar o que pretende fazer no país, caso consiga concorrer de novo e conquistar um terceiro mandato na Presidência da República. Na última de suas aparições, na semana passada, coincidentemente depois da delação do ex-diretor da Petrobras Renato Duque, que o acusou de ser o chefe da organização criminosa investigada pela Lava Jato, Lula ameaçou prender aqueles que, na operação, o responsabilizam pela rede de corrupção descoberta na Petrobras.

Em outras ocasiões, sob a mesma pressão das revelações que os investigadores vão colhendo contra ele, o petista tem dirigido sua ira contra veículos de comunicação e jornalistas que dão cobertura aos fatos revelados pela Lava Jato, quer dizer, todos os grupos de comunicação do país, garantindo que, uma vez eleito de novo, não só vai acabar com o que classifica de monopólios do setor como ainda regulamentar a comunicação no país, projeto que, por pouco, não conseguiu implantar em seus dois mandatos, para sorte da sociedade brasileira.

Enfim, se alguém tinha dúvidas, elegendo-se mais uma vez, o que parece cada vez mais distante e difícil, a despeito do favoritismo de que desfruta nas intenções de voto apuradas pelas pesquisas, Lula vai chegar, como se diz, causando, assumindo, segundo suas próprias promessas, postura absolutamente autoritária, igualzinha à de muitos dos chefetes que comandam hoje algumas das conhecidas republiquetas da América Latina. Não deve ter sido por outro motivo que o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti, resolveu respondê-lo e o fez de forma impecável.

Em nota, Cavalcanti observou que chefes do executivo não possuem poder para decretar a prisão de qualquer pessoa, a menos que estejam comandando ditaduras. “Apenas lamentar a frase, que soa como ameaça, de que – supõe-se legitimamente que depois de mais uma vez eleito presidente – mandará prender os que investigam”, disse o presidente da entidade, referindo-se às declarações dadas por Lula na última sexta-feira, num congresso petista, quando afirmou que, se eleito, “mandaria prender” quem espalhava mentiras sobre ele, ou seja, em sua avaliação, os procuradores que atuam na Lava Jato.

“Isso não deterá qualquer agente de Estado ou a marcha serena e impessoal da Justiça, mas não é uma declaração digna de quem por oito anos foi o supremo mandatário do País”, afirmou o presidente da ANPR, completando: “O ex-presidente sabe muito bem que chefes do executivo não ‘mandam prender’ ninguém em um Estado de direito. A justiça é que o faz.” Naturalmente, Lula sabe, mais do que ninguém, que, como eventual novo presidente do país não poderá tomar medida tão extremada, mas, é bom que se registre, é ele próprio que a promete e não nenhum dos seus acusadores.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro
Comentários